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Chapéu
Privatização da Eletrobras

PL ignora demandas sociais e trata energia como mercadoria

Linha fina
Especialistas dizem que proposta não debate futuro do setor elétrico nem questão socioeconômica do país, tratando energia só do ponto de vista comercial, em vez de serviço público
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Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Brasília - Parlamentares contrários à privatização da Eletrobras criticam a condução dos trabalhos na comissão que aprecia o Projeto de Lei (PL) 9.463. Eles sugerem que seja aberto novo prazo para discussão do plano decenal para a empresa e do novo modelo de sistema energético que se deseja para o país, antes de se falar nos destinos da companhia.

A reportagem é da Rede Brasil Atual.

“A impressão que temos é que o relatório sobre o PL, apresentado na última semana, já estava pronto antes mesmo dos trabalhos desta comissão serem iniciados, para atender ao mercado”, afirmou a deputada Erika Kokay (PT-DF).

“O que se vê é um absurdo que se coloca sobre outros absurdos, como o fato de o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, não ter pisado para participar de nenhuma audiência sobre a proposta”, completou Glauber Braga (Psol-RJ).

As contradições ficam mais evidenciadas diante da proximidade de discussão do relatório do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), previsto para ser iniciada na próxima semana. E, também, diante das críticas feitas esta semana por técnicos diversos do setor, durante reunião na própria comissão.

Em uma delas, a representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários Fabíola Lateno Antezona questionou o fato de estar sendo debatida a privatização em si e não um modelo energético efetivo para o país.

“Nós, do Coletivo, sempre vimos a Eletrobras como uma entidade dentro do modelo do setor elétrico. E as consultas públicas, debates e audiências que estão sendo tratadas aqui terminam mostrando a Eletrobras como sendo o sistema elétrico e ponto. Sabemos que o que está em jogo é bem mais que isso, que temos de debater o modelo de setor elétrico que se quer para o futuro”, criticou.  

Fabíola contou que no ano passado, a Consulta Pública 32, do Ministério de Minas e Energia, definiu princípios do novo modelo num processo curto e com pouco espaço para opiniões externas. 

“Foram 30 dias o prazo que se teve para definir esse novo modelo, enquanto na década de 1990 a mesma discussão durava anos”, disse. De acordo com a técnica, “tudo o que a gente entende de setor elétrico está sendo mudado”. Segundo ela, o modelo atual prevê universalização, unicidade tarifária e garantia de suprimento.

Ausência da base do governo

Apesar da tentativa de justificativa do presidente da EPE, o deputado Glauber Braga, que concordou com os dois primeiros palestrantes, chamou a atenção para o fato de o relator da comissão, com o argumento de marcar presença em outras reuniões, ter se retirado várias vezes da audiência e dos integrantes da base do governo pouco terem participado da discussão.

“No Senado já se dá como certa a privatização da Eletrobras. O ministro Moreira Franco disse que não poderia vir aqui porque não tinha agenda, mas teve agenda para participar de palestra sobre o tema na Federação do Comércio do Rio de Janeiro. Há uma articulação para que essa tramitação seja logo encerrada, mas não permitiremos que isso aconteça”, afirmou.

Braga ainda denunciou a proibição, por parte da presidência da Eletrobras, de divulgar o termo de contrato celebrado sem licitação com o banco BTG Pactual para reestruturação da estatal. “Não vamos deixar isso assim e nem deixaremos essa privatização ser aprovada”, ameaçou.

Outro a reclamar da proposta, o deputado Paulão (PT-AL) disse que se a Eletrobras for desestatizada, nenhuma empresa irá assumir programas sociais como o Luz para Todos. “Desta forma, dificilmente a energia elétrica chegará às áreas mais pobres do Brasil”, acrescentou.

O parlamentar afirmou que a privatização é rejeitada pela sociedade, como um processo que lesa a pátria. “Privatizar a Eletrobras significa romper uma soberania energética e nacional. E os países que comprarão o controle da empresa não abrem mão das suas soberanias”, ressaltou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). De acordo com ele, vários integrantes da base aliada do presidente Michel Temer são contrários ao projeto.

 

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