No final de janeiro, a Crefisa anunciou a renovação do seu contato de patrocínio com o Palmeiras. O novo contrato tem duração de três anos, com pagamento de R$ 81 milhões por temporada, R$ 3 milhões a mais do que em 2019. Além disso, haverá “investimento em marketing” (R$ 6,8 milhões), luvas (R$ 15 milhões) e mais prêmios por temporada (R$ 34 milhões, se alcançados). Dessa forma, o total por ano pode fechar em cerca de R$ 136 milhões e, daqui três anos, em R$ 410 milhões. A empresa também mantém o patrocínio à transmissão do Campeonato Brasileiro e ao Jornal Nacional, ambos exibidos pela Rede Globo. Por outro lado, enquanto investe centenas de milhões em marketing, a Crefisa impõe aos seus funcionários uma gestão de desrespeito aos direitos, assédio moral e demissões, mesmo em meio à pandemia de coronavírus.
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“As denúncias que chegam ao Sindicato dos Bancários de São Paulo [CLIQUE AQUI e responda a pesquisa do Sindicato] sobre as condições de trabalho, prática de assédio moral, desrespeito aos direitos e descaso com a saúde dos trabalhadores durante a pandemia são gravíssimas. Após nossas cobranças, a Crefisa tem feito ajustes, mas as denúncias continuam chegando. Cobramos uma urgente mudança de postura, com o fim de práticas assediadoras; que a empresa garanta equipamentos de proteção adequados para todos os que estiverem trabalhando presencialmente; que coloque todas as pessoas do grupo de risco em home office e também todos que possam exercer suas funções de casa; o fim das demissões durante a pandemia de coronavírus, como já fizeram os três maiores bancos privados do país [Itaú, Santander e Bradesco], além de um diálogo franco com o Sindicato sobre suas práticas de terceirização. É inadmissível que uma empresa que investe centenas de milhões em publicidade siga tratando seus funcionários com tanto desrespeito e descaso”, enfatiza a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro.
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Demissões na pandemia
De acordo com denúncias recebidas pelo Sindicato, no final de março, em meio à pandemia de coronavírus, já haviam sido desligados 250 trabalhadores, e nas semanas seguintes iriam mais 400. “Demissões em todas as áreas. PLD/Fraude cerca de 50% do time foi demitido. Na Toscana [terceirizada do Grupo Crefisa], times inteiros foram desfeitos. Sem qualquer acordo de redução de salário e jornada, férias coletivas ou algo do tipo”, diz um trabalhador do grupo.
Além das demissões, funcionários da Crefisa também queixam-se sobre a postura da empresa em relação à proteção dos trabalhadores.
“Desde março, quando foi iniciada a quarentena em diversos estados, inclusive em São Paulo, o medo que já era grande lá dentro ficou muito pior. Muita gente falou com a diretora Milva para autorizar o home office, porém não aceitou, mesmo que todas as pessoas da sede pudessem fazer o que fazem de casa”, relata um financiário.
De acordo com o trabalhador, apenas após a intervenção do Sindicato a Crefisa colocou 75% das pessoas que avaliam crédito em home office. “O local de trabalho lá era claustrofóbico, sem janelas e bem abafado. Porém, nas demais áreas se você falasse em home office era demitido na hora”.
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“Depois que as coisas estavam definidas, que todos [da sede] iriam ter que estar lá presencialmente, muitos acharam que pelo menos o equipamento mínimo seria fornecido, só que isso não aconteceu de imediato. Foi acontecer uma semana depois de quando a quarentena começou. Porém, só foi fornecido o álcool em gel nas áreas e depois de passar na catraca. Só que lá existe portão, catraca digital, ponto para registrar hora com digital. Ou seja, tudo com o toque. Depois de 2 ou 3 semanas fecharam a catraca, colocaram álcool em gel no ponto para registrar hora. Só que já era bem tarde. Pessoas do grupo de risco, alguns tossindo, alguns com sintomas, outros já afastados pelos médicos. Tudo isso era abafado e ninguém poderia comentar internamente. Um galera acreditou que saindo de férias poderia minimizar o impacto, mas na volta foram desligados”, relata o financiário.
A Crefisa, segundo as denúncias, chegou ao ponto de camuflar seu descaso com a saúde dos trabalhadores durante fiscalização da Prefeitura de São Paulo para verificar o uso de máscaras pelos trabalhadores. “A Crefisa/Adobe não estava preparada para isso e em uma forma de enganar pediu que só pessoas que estavam usando suas próprias máscaras saíssem. Depois disso, foram distribuídas três máscaras por funcionário de tamanhos enormes, que mal se encaixam no rosto. Todos tiveram que assinar um termo confirmando o recebimento e, caso alguém fosse pego sem ela nas dependências da empresa, iria tomar falta grave. Desde quando a quarentena aconteceu, só agora tomaram alguma ação.”
“O Sindicato já reivindicou uma série de medidas junto à Fenacrefi, entre elas a maioria dos trabalhadores em home office, a manutenção dos empregos e a garantia da integralidade do salário e benefícios previstos na CCT da categoria. Este é um momento delicado, cujo objetivo é preservar a saúde e a vida das pessoas, e não pensar apenas no lucro e em cobranças de metas”, diz Neiva Ribeiro.
Assédio Moral
Os trabalhadores do Grupo Crefisa também queixam-se de enorme pressão e práticas de assédio moral na empresa.
“Todos conhecem o Sr. José [José Roberto Lamacchia], como é chamado lá dentro. É o dono e responsável por tudo. É ele quem grita, xinga, ofende, berra com qualquer pessoa lá dentro. Abaixo dele está a Dra. Leila. Sim, chamam ela de doutora. É presidente da Crefisa e da FAM [Faculdade das Américas]. O medo que envolve esses dois para qualquer funcionário é enorme, seja você analista ou até diretor. Existem casos e histórias que o Sr. José viu algum funcionário passando do lado dele, não foi com a cara e demitiu. A Leila é totalmente ausente da Crefisa, diz que trabalha, mas nunca se vê ela participando de alguma coisa dentro da Crefisa. O importante para ela é a imagem e o Palmeiras, que só está hoje com a Crefisa para enaltecer a imagem dela”, denuncia um trabalhador do grupo.
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Terceirização
Um dos trabalhadores que entrou em contato com o Sindicato denunciou ainda a prática que chama de “auto-terceirização” na Crefisa. De acordo com a denúncia, para não ter que arcar com parte dos encargos trabalhistas, a Crefisa criou outro CNPJ para serviços terceirizados do grupo, no qual concentra a maior parte dos seus funcionários.
Segundo o relato, na empresa Toscana, que concentra toda a área de call center, estão 7% dos trabalhadores do Grupo Crefisa; na Agência Panda, empresa de marketing da Crefisa, trabalham 2% dos funcionários do grupo, altamente sobrecarregados, chegando a trabalhar de 12h a 16h seguidas; na Adobe - que atua em áreas como recrutamento e seleção, PLD/Fraude, Mesa de Crédito, Tecnologia, Comercial, Operacional, Manutenção e lojas - estão cerca de 90% dos funcionários do grupo.
Na Crefisa Financeira estão apenas 1% dos trabalhadores. “Se tiver 100 pessoas é muito. Apenas a área de Jurídico e alguns líderes de outras áreas fazem parte desse grupo”, diz o financiário.
Banco sem bancários
Por fim, as denúncias também revelam que a Crefisa lançou um banco digital, sem bancários, que ganhou o nome de Crefisa Mais. “Só não divulgaram, mas já existe. Nem sequer ofereceram alguma capacitação da Anbima para os funcionários”, relata um trabalhador.
“É muito importante que os trabalhadores continuem denunciando ao Sindicato qualquer tipo de desrespeito aos direitos, assédio moral, demissões e descaso com a saúde dos funcionários. Desta forma, teremos cada vez mais elementos nas tratativas e negociações com a Crefisa, assim como para as demais medidas cabíveis para defender os direitos, empregos e a vida destes trabalhadores. O sigilo é garantido”, reforça Neiva.
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