A primeira mesa da 24ª Conferência Estadual dos Bancários de São Paulo tratou da Conjuntura Política e Sindical com a presença do cientista social Fausto Augusto, técnico do Dieese, e de Altamiro Borges, jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
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Os palestrantes fundamentaram em suas falas a importância dos sindicatos e suas bases se dedicarem ao debate político num cenário em que, embora as pesquisas demonstrem a liderança de Lula, o que colocaria fim na política de retrocessos no governo federal, há muitos desafios, dentre os quais o da comunicação.
Na ocasião, o jornalista Altamiro Borges, divulgou dados de pesquisas que mostram a maioria das mulheres, trabalhadores, jovens, negros e desempregados escolhendo Lula, com percentuais que vão de 53% a 17%. No Nordeste, a preferência a Lula chega a 63%.
Embora o cenário seja positivo, Miro ressalta o quão dura será a disputa, já que Bolsonaro permanece com apoios de setores do empresariado que se beneficiam de suas políticas.
Além da batalha duríssima na área da comunicação, com emissoras de televisão e rádios tradicionais comprometidas com o atual governo, neste ano Bolsonaro terá tempo de TV durante a campanha. Mas, de acordo com Miro, o mais importante é a gigante rede de ódio nas redes sociais criada por eles com milhões de compartilhamentos. ‘’É o gabinete do ódio cravado no Palácio do Planalto’’, alerta o jornalista.
Modo de fazer
A prioridade máxima neste cenário, para o jornalista, será a de trabalhadores e sindicatos se dedicarem à batalha eleitoral, especialmente nesses quatro meses de campanha, que começa no dia 2 de junho. ‘’Com Bolsonaro reeleito, as instituições serão corroídas. E para quem está pensando em emprego e renda, a energia tem que se voltar para as eleições e os desafios básicos são fortalecer os comitês populares e tonificar o debate nas redes sociais’’.
Fausto Augusto destacou as dificuldades que o país atravessa no cenário atual com a política neoliberal e privatista, que destroça a renda do trabalhador, com uma gestão que nega o acesso a serviços básicos e que tem um olhar só para os grandes empresários, com milhares de desempregados, trabalhadores informais, e a redução de renda tornando qualquer negociação mais obscura e difícil de encaminhar.
‘’Nossa discussão, especificamente, vai acontecer na base. No mundo real. E os temas principais desse momento são a violência e a carestia, inclusive um tema que não usávamos há anos por conta da inflação que tira a comida da mesa de milhares de famílias".
A hora é agora
Para o cientista social esse é um momento ímpar para se fazer uma campanha, com transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. ‘’Esse é o caminho para falar com a população. Enquanto Bolsonaro fala de segurança e família, precisamos falar sobre a fome, a miséria e o desemprego. Esse será o bom debate’’.
‘’Estamos vendo acontecer o que víamos na ditadura, sem o carro blindado, mas a ditadura vai aparecendo contra aqueles que são mais fracos. Ela começa na periferia e chega nos sindicatos depois’’, disse, afirmando que esse é um dos anos mais importantes para o país e o mais importante das nossas gerações.
Ódio X Amor
O jornalista Altamiro Borges, o Miro, afirma que esse ano define o futuro do trabalho no Brasil, inclusive se vão ou não existir sindicatos no país. ‘’Estamos vivendo no mundo uma combinação perversa de ultraneoliberalismo com desmonte do trabalho e do Estado, a ponto de a ONU se espantar com a quantidade de retiradas de direitos em vários países’’.
Para o jornalista, todo esse processo deu abertura para o neofascismo e o obscurantismo nos valores e nos costumes. ‘’Uma verdadeira regressão civilizatória’’, disse Miro, lembrando de casos como a chacina do Rio e a cena de tortura e morte com câmara de gás em Sergipe, que remontam à barbárie. ‘’O que avançamos em lutas como machismo, racismo e homofobia está indo por água abaixo no atual governo’’.
A polarização que temos hoje, para Altamiro, não é entre esquerda e direita, mas entre fome e comida no prato, entre ódio e amor, entre necropolítica e vida. Por isso, segundo ele, as eleições deste ano terão caráter de plebiscito.
Quem são os palestrantes
Altamiro Borges é jornalista, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e autor de vários livros, entre os quais Encruzilhadas do Sindicalismo, A Ditadura da Mídia, Venezuela - Originalidade e Ousadia, A Reforma Sindical e Trabalhista no Governo Lula, América Latina. Submissão ou Razão.
Fausto Augusto é professor da FIA e atua como diretor técnico do DIEESE, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. É mestre e doutorando na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Sua formação é em Ciências Sociais também pela USP.