Durante reunião com o movimento sindical, na tarde desta quarta-feira 1º, a área de Recursos Humanos do Santander não reconheceu que o banco está descumprindo um compromisso firmado em mesa com os trabalhadores de não demitir durante a pandemia de coronavírus. Desde o início de junho, o Santander Brasil já desligou cerca de 400 bancários e bancárias, mas para o RH essas demissões são apenas “ajustes” que estão pautados “na performance” desses bancários, e que inclusive, segundo os representantes do banco, estariam “ocorrendo contratações”. Afirmaram ainda que a pandemia trouxe a “necessidade de adequações, que precisam ser feitas rapidamente para que o banco seja competitivo”.
Disseram ainda que não há espaço de negociação sobre as demissões, pois “não se trata de um número relevante de demitidos, mas apenas de reajustes pontuais e necessários para trazer mais dinamismo.”
Quanto à cobrança de metas, denunciadas por diversos trabalhadores, o RH diz que o banco tem recebido elogios de muitos trabalhadores que se dizem satisfeitos com o programa 'motor de vendas', pois agora eles estariam entregando até mais resultados do que antes da pandemia, já que o motor de vendas estaria facilitando o dia a dia deles. As metas, segundo os representantes do banco, estariam trazendo “equilíbrio para a rede”, uma vez que elas variam “dependendo do porte da agência e da carteira do funcionário”.
“Ou seja, pelas palavras do RH está tudo lindo no Santander, e todos estão trabalhando felizes, já que os bancários estariam até mesmo elogiando a gestão do banco. Só que esse não é o relato de centenas de bancários que nos contam da enorme sobrecarga e pressão por metas no banco, junto com o medo real de demissões, pois muitos dos colegas estão sendo mandados embora”, denuncia a diretora da Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenadora da mesa de negociação com o banco, Maria Rosani.
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A dirigente critica ainda a naturalidade com que o banco trata as demissões e a sobrecarga de trabalho.
“Além de demitir em plena pandemia, o Santander Brasil tem apostado na gestão do terror, do medo, da alta competitividade, e muitas vezes com práticas humilhantes e vexatórias de cobrança. O tal motor de vendas não trouxe equilíbrio. Pelo contrário, essa cobrança excessiva desloca para o trabalhador a responsabilidade de reduzir os impactos no banco da economia parada por conta da crise sanitária. Deixando claro para o bancário que quem não entregar as metas impostas, quem não se superar todo mês, não serve para o banco. Ainda que em todos os anos anteriores, esse trabalhador tenha entregado seus resultados”, acrescenta Rosani.
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Não tem palavra
A dirigente ressalta ainda que, com as demissões, o banco está sim descumprindo o acordado em mesa com a Fenaban (federação dos bancos) e também desdizendo o que divulga para o mundo a para seus acionistas.
“O banco mente inclusive para seus acionistas e para a sociedade, pois em seu balanço trimestral está escrito que não demitiria durante a pandemia. Ou seja, no documento oficial do banco, que é divulgado para o mundo e para os acionistas, o Santander Brasil passa a imagem de empresa responsável socialmente, coisa que na realidade não é”, revela.
Maria Rosani lembra que o Santander, assim como outros grandes bancos, se beneficiou de dinheiro público durante a pandemia, com o repasse de R$ 1,2 trilhão pelo governo federal ao sistema financeira, para que isso se revertesse em crédito acessível aos brasileiros nesse momento de crise. “Mas a contrapatida do banco para a sociedade e para os trabalhadores brasileiros, que foram os responsáveis pela maior fatia de lucro do grupo no mundo, já que o Brasil lidera com 29% do lucro global, é o agravamento da crise e do desemprego. Toda a sociedade brasileira paga essa conta”, constata.
Baixa performance é argumento falso
A dirigente sindical denuncia ainda que o argumento do Santander para justificar as demissões é falso. “As demissões são justificadas por baixa performance, mas isso não é verdade. Muitos trabalhadores com notas ótimas de feeedback estão sendo desligados. E mesmo que fosse a baixa performance, como cobrar produtividade em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, ou seja, num momento em que as pessoas estão lutando para sobreviver? É vergonhosa a postura do Santander!”
Postura antissindical
Para a dirigente, a postura do Santander em se negar a negociar sobre as demissões é antissindical. “Ao vir para uma mesa sem apresentar números, sem estar aberto à negociação efetiva, o Santander se mostra uma empresa antissindical e anti trabalhador. Não basta conversar, precisa negociar de fato, estar disposto a ouvir, precisa estar disposto a voltar atrás, a repensar a rota. Senão, podemos afirmar que não existe negociação com o Santander. E negociação coletiva é o mínimo para uma empresa que pretende atuar com alguma resposabilidade social. É o mínimo em um mundo civilizado. Inclusive é critério e condição importantes e necessárias em tratados internacionais dos quais o Santander é signatário.”
Live de Rial
O Sindicato cobrou respostas sobre a afirmação do presidente do banco no Brasil, Sérgio Rial, que, em live nas redes sociais, propôs redução salarial e de benefícios para os trabalhadores em home office. O RH disse se tratar apenas de uma opinião pessoal do presidente, que não terá nenhum reflexo para os trabalhadores. Disseram ainda que todos deveriam relativizar a fala e interpretá-la com os devidos cuidados, uma vez que Rial fala com espontaneidade. Mas que não significa que o que ele fala será implementado. E afirmaram que não existe hoje dentro do Santander nenhum interesse de reduzir salários dos trabalhadores.
“É impossível um presidente expressar uma opinião pessoal, dentro de uma canal oficial do banco, e achar que isso não tem consequências, que não será levado a sério por todos os seus funcionários. O banco Santander e Sergio Rial não entendem o peso de suas palavras? O presidente do banco não entende a responsabilidade daquilo que diz? Então não é para confiar no que o presidente diz? Se o porta voz maior da instituição não deve ser levado a sério, quem fala pelo Santander? Nós os trabalhadores e a sociedade querem saber”, questiona a dirigente.
“Definitivamente, o banco que o RH enxerga está muito distante do banco real, e os eventuais trabalhadores que elogiam a politica do Santander não representam a maioria, que está adoecendo e sendo demitida”, afirma Maria Rosani.
A reunião seria retomada na sexta-feira, dia 3, às 14h30, mas o banco contatou o Sindicato e cancelou. O banco remarcou para sexta-feira, 10 de julho. Na ocasião, o banco deverá apresentar maiores detalhes sobre o programa Motor de Vendas; sobre a mudança de função do GA e do GR; e também deve apresentar uma proposta de banco de horas negativo, que está devendo há semanas.