Artigo da revista britânica The Economist, uma das maiores publicações de economia do mundo, constata: o lucro dos bancos brasileiros se mantém alto independentemente da situação econômica do país, seja em momentos de crise ou de prosperidade.
O artigo (leia íntegra em inglês) observa que os bancos brasileiros mantiveram a alta lucratividade durante o período de hiperinflação da década de 1980 e início dos anos 1990, assim como no recente período de recessão econômica, de 2015 a 2016, e no atual, com a economia estagnada, de 2017 e 2018.
Analistas do mercado financeiro acreditavam que, com a queda da taxa básica de juros (Selic) os bancos seriam obrigados a baixar suas taxas e, com isso, haveria uma redução de lucros do setor.
Mas não foi o que ocorreu, como destaca a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira. “A Selic caiu de 14,25% em outubro de 2016 para 6,5% ao ano atualmente, mas os bancos sempre inventam uma desculpa para manter suas taxas nas alturas. Além disso, eles agora passaram a ganhar mais também com as tarifas sobre serviços. Os lucros dos três maiores bancos privados do país continuam nas alturas”, diz a dirigente bancária, que é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que representa a categoria nas mesas de negociação com a Fenaban (federação dos bancos).
Em 2017, os ganhos dos bancos com tarifas de serviços bancários aumentaram 10% na comparação com o ano anterior, somando R$ 126,4 bilhões. Os valores sobem tanto que a inflação de serviços bancários, em 2017, foi de 8,96%: três vezes maior que a geral, de 2,95% (IPCA/IBGE).
É preciso observar que a receita dos bancos com tarifas de serviços é secundária, já que eles ganham muito mais com outras operações. “Essa é uma receita ínfima para os bancos, mas ela é maior do que o orçamento do governo federal para a Saúde (R$ 114,8 bilhões) e para a Educação (R$ 109 bilhões)”, observa Juvandia.
Forte concentração
Segundo a The Economist, a concentração do setor é uma das explicações para a grande lucratividade dos bancos brasileiros. O setor é dominado por cinco grandes bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander). O artigo destaca que a concentração tem aumentado nos últimos anos, após a compra do HSBC pelo Bradesco e das operações de varejo do Citibank pelo Itaú.
“Mas, essa não é o único motivo que leva ao grande lucro dos bancos no Brasil. Aqui, eles fazem o que querem. Aumentam suas tarifas indiscriminadamente, mantém spreads altíssimos, promovem a venda casada de produtos, exploram seus funcionários, estabelecendo metas abusivas de vendas e obrigando-os cumpri-las, sob o risco de perderem o emprego”, ressalta a presidenta da Contraf-CUT.
“Os bancos obrigam os funcionários a trabalharem todos arrumadinhos. Quem os vê trabalhando desta maneira não imagina a pressão que eles precisam suportar para cumprir as metas estabelecidas. Isso faz com que a categoria seja uma das que mais precisam se afastar de suas funções devido a doenças causadas pelo trabalho que realizam”, completou Juvandia, que também é uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que representa a categoria nas mesas de negociação com a Fenaban (federação dos bancos), o sindicato patronal.
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Juvandia Moreira lembra ainda que os problemas que afetam a categoria podem se ampliar após a aprovação da reforma trabalhista. “Lutamos pela manutenção dos direitos estabelecidos em nossa Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e na antiga CLT. Os bancos estão com a faca e o queijo na mão e nos ameaçam com o corte de conquistas de décadas de luta. Mas eles lucram muito no Brasil e podem garantir aumento real para a categoria e manter todos os direitos. Os bancários precisam estar preparados para lutar por isso”, alerta Juvandia.
Assembleia na quarta 8
Os bancários, que tem data-base em 1º de setembro, estão em Campanha Nacional Unificada. Aumento real para salários e demais verbas, como PLR, VA , VR e auxílio-creche/babá estão entre as principais reivindicações de remuneração da categoria. Os bancários reivindicam ainda a manutenção dos direitos previstos na CCT e o fim das demissões, além de demandas de saúde e condições de trabalho.
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A Fenaban ficou de apresentar uma proposta global às reivindicações da categoria nesta terça-feira 7. Essa proposta será apreciada pelos bancários em assembleia no dia seguinte, na quarta-feira 8, a partir das 19h, na Quadra dos Bancários (Rua Tabatinguera, 192, Sé).
Veja como foram as negociações com a Fenaban
> 1ª rodada: Bancos frustram na primeira rodada de negociação
> 2ª rodada: Calendário de negociações foi definido
> 3ª rodada: Categoria adoece, mas Fenaban não apresenta proposta
> 4 rodada: Bancos não se comprometem contra contratações precárias
> 5ª rodada: Bancos se comprometem a apresentar proposta no dia 7