Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Ataque à democracia

BTG Pactual: censura a jornalista é afronta à Constituição

Linha fina
Banco apela à Justiça para calar Jornal GGN, de Luis Nassif, que denunciou compra de carteira de crédito do BB por apenas 10% de seu valor. Sindicato, que há meses luta contra a exploração dos trabalhadores promovida pelo banco, repudia veementemente mais essa postura do BTG
Imagem Destaque

O banco BTG Pactual, que já é velho conhecido do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região por explorar trabalhadores com jornadas extensas, trabalho aos sábados e não pagamento de horas extras, deu mais um passo em sua agenda de escândalos. Apelou à Justiça para calar o jornalista Luis Nassif, do Jornal GGN, que vem denunciando a compra, pelo BTG, de carteira de crédito do Banco do Brasil por apenas 10% de seu valor. Detalhe: um dos fundadores do banco é o ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes.

Em resposta à ação movida pelo BTG Pactual, o juiz Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves, da 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro determinou, na última sexta-feira (28), a retirada de 11 reportagens assinadas por Nassif e pela repórter Patrícia Faermann que tratam de negócios suspeitos envolvendo o banco: além da compra das carteiras do BB com 90% de desconto, o Jornal GGN denunciou a licitação “com cartas marcadas” vencida pelo BTG Pactual para operar o sistema de Zona Azul eletrônica, na cidade de São Paulo (leia abaixo).

O juiz também determinou que o veículo se abstenha de fazer novas publicações que ataquem a imagem do BTG. E estabeleceu multa diária de R$ 10 mil, em caso de descumprimento.

Em sua decisão, o juiz Leonardo Chaves aponta que o conteúdo deve ser removido do site porque “pode causar prejuízo financeiro aos acionistas do banco”.

“Trata-se de uma afronta à Constituição, à liberdade de imprensa e à democracia. Repudiamos veementemente a decisão da Justiça do Rio e mais essa atitude deplorável de um banco que já cumpre, há anos, uma agenda de exploração contra seus trabalhadores. É papel da imprensa denunciar e questionar, com ética e seriedade, operações suspeitas que resultem em prejuízo aos cofres públicos. Os cidadãos brasileiros precisam ser informados. Não existe democracia sem uma imprensa diversificada e livre. Nossa solidariedade aos jornalistas Luis Nassif e Patrícia Faermann”, diz a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro.

A dirigente lembra que o Sindicato, por meio de seu site, também criticou a operação entre BTG e Banco do Brasil, que resultou na compra, por R$ 371 milhões, de uma carteira de crédito que vale R$ 3 bilhões.

Deputado cobra anulação de operação entre BB e BTG Pactual
BB cede carteira de crédito ao BTG em meio à nova ameaça de privatização
Deputado cobra explicações sobre transferência de ativos
Empresa do conglomerado do BB daria retorno maior à carteira cedida ao BTG

Agenda de exploração

Jornadas que chegam a 16 horas, com trabalho aos sábados e sem o devido pagamento de horas extras são práticas do banco BTG Pactual que o Sindicato denuncia e combate há anos. Desde dezembro de 2016, a entidade atua para que e empresa respeite a legislação trabalhista e seus empregados, seja pela via negocial, com diversas reuniões com o RH do banco, seja por meio de protestos, como o realizado em agosto de 2017, na frente da suntuosa sede da empresa, na capital paulista.

“Chegamos a ouvir do RH que o banco não pagava horas extras porque já 'remunerava muito bem' seus funcionários. Quer dizer que o banco paga para escravizar, para burlar a lei e a CCT da categoria?", questiona Neiva. “Se os trabalhadores estivessem satisfeitos, não chegariam ao Sindicato as diversas denúncias que recebemos”, acrescenta.

Veja reportagens sobre atuação do Sindicato em relação ao BTG Pactual:

BTG Pactual contrata 'escravo'! Paga-se bem
Sindicato denuncia exploração e mesquinharia do BTG Pactual
Exploração se intensifica no BTG Pactual
> Material produzido pelo Sindicato sobre exploração no BTG

Bilhete Azul

Segundo o Jornal GGN, a licitação vencida pelo BTG Pactual para operar o sistema de Zona Azul da cidade de São Paulo não levou em conta o que essa operação tinha de mais caro: o banco de dados com informações de 3,5 milhões de usuários. Mais do que operar na venda de bilhetes de estacionamento, era no banco de dados que a empresa estava interessada, e a utilização desse banco de dados não foi considerada no preço da licitação.

“Denunciei esse ponto, com base em estudos do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP), mostrando que havia sido sonegado à prefeitura o valor correspondente ao uso desse banco de dados. Com base nisso, o Ministério Público Estadual de São Paulo (MP-SP) entrou com uma ação para tentar anular a licitação”, disse Nassif, em entrevista ao programa Central do Brasil (parceria entre a TVT e o Brasil de Fato).

O jornalista reclamou da decisão da Justiça do Rio junto ao Supremo Tribunal Federal, e anunciou que, enquanto isso, já prepara novas reportagens sobre o BTG Pactual.

seja socio