Na última semana, uma notícia causou polêmica: o anúncio da Magazine Luiza em lançar um programa de trainees exclusivo para negros. Apesar das críticas, a empresa decidiu manter a política afirmativa contra o racismo estrutural no Brasil, corrigindo desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas durante séculos.
Os números retratam essa desigualdade. Pretos e pardos correspondem a 64% dos desempregados e 66% dos subutilizados no país, mostra o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019. A diferença do salário médio chega a 73%, com destaque para os homens brancos, que têm vantagem quando comparados às mulheres brancas e às mulheres e homens pretos e pardos. As mulheres negras recebem menos da metade do salário de um homem branco (44%). Entre os 10% da população com os maiores rendimentos, apenas 27,7% eram pretos ou pardos. Por outro lado, os pretos ou pardos representavam 75,2% do grupo formado pelos 10% da população com os menores rendimentos. O rendimento médio domiciliar per capita da população branca (R$1.846) era quase duas vezes maior do que o da população preta ou parda (R$934).
Outra pesquisa nacional com as 500 empresas de maior faturamento do Brasil aponta que os negros são de 57% a 58% dos aprendizes e trainees, mas na gerência eles são 6,3%. No quadro executivo, a proporção é ainda menor: apenas 4,7% são negros.
Não tenho dúvida que o racismo no Brasil é estrutural, com práticas, hábitos, situações e falas embutidas em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação e/ou o preconceito racial.
Os maiores bancos atuantes no país gastam bilhões de reais com propaganda e publicidade. Parte dessa propaganda destina-se a vender uma imagem de responsabilidade social, boas práticas de gestão e valorização da diversidade, mas a prática é bem diferente do discurso.
No setor bancário, a partir dos relatórios anuais do bancos, em 2019, podemos destacar que os bancos pouco avançaram em relação a promoção de pessoas negras. O banco Itaú teve um percentual de negros de 1,80% no cargo de direção e 14,6% entre os gestores. Nos cargos comerciais e operacionais estão o maior número de negros: 27,4%, mas o índice total chega apenas a 22,88%. No Bradesco, são mais de 97 mil funcionários de quatro gerações distintas, dos quais 50,4% são mulheres e apenas 26,4% são negros. Na Caixa apenas 24,2% dos empregados são negros. No Santander, na diretoria estão 3,3% de negros. No Banco do Brasil, nos cargos de chefia, pretos, pardos e indígenas chegam apenas a 21,98%.
O racismo retira da população uma oportunidade de mudança. Não são só nos locais de trabalho. O Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo, revela o abismo social em que vivemos. Em São Paulo, a taxa de mortalidade infantil em Marsilac, no extremo sul, é 23 vezes maior do que em Perdizes, na zona oeste. Os dados revelam também que, em São Paulo, a idade ao morrer está diretamente ligada à cor da pele: Moema, onde se morre mais velho, é também o distrito mais branco da cidade – segundo o Censo 2010, a população negra em Moema era de apenas 5% do total de moradores. No outro extremo, na Cidade Tiradentes, negros são 56,1% dos moradores, mais da metade da população do distrito.
Não há argumento maior que a análise de dados concretos. E saber que uma grande empresa como a Magalu abre espaço para essa mudança é uma boa notícia. A Bayer também anunciou processo seletivo para contratação de negros. Discutir e analisar o que cada um de nós pode fazer para diminuir essa desigualdade histórica é dar um passo para a transformação.
A igualdade de oportunidades é uma reivindicação da categoria bancária. Nossa mobilização reforça a importância de oportunidades iguais como mais um eixo de resistência. Além de receber denúncias dos trabalhadores, estamos à frente de uma negociação nacional com os banqueiros exigindo igualdade e respeito, com inúmeros avanços entre negros, mulheres, pessoas com deficiência e LGBT. Não há avanço sem luta, união e resistência dos trabalhadores!