São Paulo – O racismo ainda é uma questão muito presente no mercado de trabalho e atinge de forma ainda mais contundente as mulheres. Esta foi a percepção quase unânime dos participantes do seminário Racismo no Mundo do Trabalho, organizado pelo Ministério Público do trabalho na quarta-feira 8.
A secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro, participou do painel A questão racial no trabalho e falou sobre diversidade de raça e de gênero nas empresas. Neiva destacou que há dificuldade tanto para inserção da população negra no mercado de trabalho, quanto para redução da desigualdade de remuneração se comparados os salários entre negros e demais etnias. A dirigente frisou, ainda, a diferença salarial entre homens e mulheres revelada em pesquisa realizada pelo Dieese em São Paulo.
“As mulheres negras são muito mais prejudicadas. A taxa de desemprego das mulheres negras é de 16%, contra 11% dos homens não-negros. Se olharmos os rendimentos, as mulheres negras também são igualmente prejudicadas. Em São Paulo, a média de remuneração das mulheres negras é de R$ 1.389, segundo dados de 2015. Para homens negros, a média é de R$ 1.870. Entre mulheres não-negras, a média é de R$ 2.037 e de R$ 2475 para homens não-negros. Estes números demonstram o que a gente aponta, discute e rebate que é a desigualdade de remuneração que está fundamentada nos dados”, frisou a dirigente do Sindicato.
Neiva aproveitou para falar sobre a campanha de combate à discriminação da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), lançada em outubro. Com o mote Não precisa ser para sentir, a mobilização tem o objetivo de valorizar os trabalhadores de todos os gêneros, raças, orientações sexuais e aqueles com algum tipo de deficiência.
Samuel Emílio, coordenador de Políticas Públicas da Educafro, lembra que políticas afirmativas são fundamentais para ampliar a capacitação da população negra e, consequentemente, sua inserção no mercado de trabalho.
“Não tem como falar de capacitação e inserção sem falar das políticas afirmativas, que são a única forma de fazer com que a nossa comunidade, que tem acesso a menos oportunidades, consiga se capacitar para, aí então, começarmos a questionar a inserção. Por isso surgiu a lei de cotas – em 2012, relacionada à academia –, e em 2014, relacionada aos concursos públicos”, analisou.
O professor da Unifesp Cleber Santos Vieira, integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, traçou um panorama histórico para a conjuntura de discriminação no mercado de trabalho em relação a negros e negras. O pesquisador ressalta que o problema tem raízes no Brasil escravagista.
“O trabalho foi inicialmente usado no país como ferramenta de opressão e aprisionamento da população negra. No Brasil, a história dos trabalhadores negros ainda está sendo escrita”, completou.