O 12º Congresso da Fetec/CUT-SP continuou na tarde deste sábado 19 com a discussão dos desafios atuais do mundo do trabalho. Compuseram a mesa Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários; Alex Livramento, bancário da Caixa, dirigente sindical e representante da central sindical CTB; e Alexandre Caso, dirigente sindical pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo no Grupo Nacional da Agenda Legislativa das Centrais Sindicais e membro da Intersindical. A mesa teve a coordenação de Aline Molina, atual presidenta da Fetec-CUT/SP.
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Ivone Silva contextualizou a situação atual com números da Pesquisa do Emprego Bancário realizada pelo Dieese com dados do Caged. Os dados apontam que atualmente 23 milhões de pessoas estão subutilizadas. E quatro milhões sequer procuram mais emprego porque perderam a esperança de encontrar. As pessoas ocupadas são 99 milhões, das quais 47 milhões com carteira assinada. Os outros 52 milhões não contribuem com o INSS e, por isto, não têm nenhum tipo de proteção social.
A pesquisa mostra que nos últimos 12 meses encerrados em agosto foram criados 38 mil postos de trabalho no ramo financeiro. Mas no ramo bancário foram criados apenas 3.413 vagas, das quais 37% foram geradas pela Caixa Econômica federal, e 10% para a área de TI.
“Os bancos não estão morrendo, estão migrando para outros lugares que nós não representamos (…) A categoria tem se estagnado, mas no ramo financeiro tem crescido muito, mas por causa da terceirização. O Santander e o Itaú criam empresas e contratam por essas empresas. E nós queremos que esses trabalhadores sejam abrangidos por nossa representação. (...) Os bancários desligados têm salário de R$ 6,7 mil, e os bancários contratados tem média salarial de R$ 5,5 mil. Também é uma outra forma dos bancos para redução de custos. Agora o que eles fazem é diminuir [custos] com pessoal.”
Ivone ressaltou que o salário médio do trabalhador no Brasil é de R$ 1.931, o que representa 35% do salário de entrada da categoria bancária, e é praticamente o que os bancários recebem com vale-alimentação e vale-refeição (R$ 1.795,76).
“Nós não somos uma ilha, e quando os salários gerais são mais baixos, os banqueiros querem baixar também, por meio da terceirização. A discussão do Congresso Nacional era limitar o vale-alimentação pagando o salário através do vale. Se a média salarial é de R$ 1,9 mil, para eles [parlamentares], tem que ganhar pelo valor menor, porque o Congresso é formado em sua maioria por quem nunca teve de viver de salário.”
Mudanças vieram para ficar
A dirigente enfatizou que as mudanças impostas pela pandemia vieram para ficar, com os bancos passando a fazer contratações em regime de home office, em cargos gerenciais e da área de TI, que podem trabalhar em outros Estados ou até no exterior.
Outro fator ressaltado pela presidenta do Sindicato é a luta para rever pontos da reforma trabalhista, sobretudo o fim da negociação individual entre empregado e patrão, que, segundo ela, prejudica muito os trabalhadores; além da luta em torno da redução da jornada de trabalho.
“Nós queremos focar na proposta da semana de quatro dias. Enquanto os bancários têm jornada de 30, 40 horas, a realidade dos brasileiros é muito maior. Temos de fazer a discussão da redução da jornada usando a tecnologia a nossa favor”, disse Ivone, acrescentando que as Fintechs vieram para ficar, e o desafio é como representar os seus trabalhadores.
‘Queremos mais direitos’
Os projetos de lei tramitando no Congresso Nacional e que atacam os direitos históricos dos bancários, como jornada de seis horas e o descanso aos sábados, também foram enfatizados por Ivone.
“O perfil do Congresso não é de trabalhadores, é de empresários ou de pessoas que herdaram fortunas e nunca trabalharam, nunca pegaram um ônibus, um trem e não têm empatia com o que o trabalhador vive (…) Nós vamos acampar em Brasília para disputar essas pautas com os patrões, que querem a retirada de direitos. E nós queremos mais direitos”, afirmou.
Manter a organização
Alex Livramento ressaltou que o Congresso Nacional eleito em outubro de 2022 não é favorável à pauta dos trabalhadores, assim como não era em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pela primeira vez.
“Nós teremos de alinhar a luta política às manifestações de rua e em Brasília, por direitos, aliada ao trabalho de base, não só dentro da nossa categoria, nos locais de trabalho, mas com a população e com os comitês de luta. Temos de manter essa organização para que a gente possa avançar nas pautas de defesa dos direitos dos trabalhadores e puxar o governo para o lado da classe trabalhadora, porque o pessoal da Faria Lima já está puxando para o lado de lá. Nós temos de mostrar que quem elegeu Lula foram os trabalhadores, os índios, os LGBTs, as minorias, que na verdade são as maiorias.”
Alexandre Caso enfatizou a importância de organizar os trabalhadores terceirizados. “Precisamos atender as demandas desses trabalhadores e trabalhadoras que sofrem com menos direitos, e precisamos ocupar o Congresso Nacional. Existe um trabalho da agenda legislativa nacional da centrais sindicais, e existe um trabalho em cada estado da agenda legislativa, que envolve todos os sindicatos, e que a gente precisa desenvolver. A gente mapeia os projetos no Congresso Nacional, enfrenta esses projetos, e os parlamentares que votam contra os trabalhadores e trabalhadoras, a gente joga para os estados trabalharem nas bases eleitorais de cada parlamentar a pressão para que esses retrocessos não sejam aprovados, e para que esses parlamentares não sejam reeleitos. É um trabalho que, com a eleição do presidente Lula, terá muito mais eficácia no sentido de reverter todos esses retrocessos que sofremos durante este período.”