Na última divulgação do balanço do Caixa, em novembro, o presidente do banco, Pedro Guimarães, comemorava a devolução de 152 prédios administrativos em sua gestão.
Quem vive o dia a dia das unidades, porém, não tem muito o que comemorar: além do fato de que a despesa de aluguel da Caixa aumentou no último ano, ao contrário do que se poderia supor, muitos empregados lotados em unidades que eram sediadas nos prédios devolvidos estão sem local para trabalhar, agora que foram convocados para retornar ao trabalho presencial.
Outro fato ocorrido neste período ganha ares de folclore, tamanho o absurdo: com a devolução dos prédios, o mobiliário de muitos destes locais (incluindo as estações de trabalho utilizadas pelos empregados) foi doada a instituições cadastradas pela Caixa, já que o banco, aparentemente, optou por não contratar um espaço para armazenar estes móveis.
Hoje, porém, os empregados de áreas-meio relatam que não há mais estações de trabalho disponíveis para serem instaladas nas agências. A instalação destas estações seria uma alternativa (precária, é verdade, mas uma alternativa) para o problema criado pela administração da empresa, de falta de local para se trabalhar.
Os fatos levantam uma dúvida: o objetivo da direção com estas decisões incoerentes era realmente criar um caos entre os empregados, ou a administração não conseguiu prever os efeitos?
Enquanto reina o caos nas unidades, a Depes e a Viepe oferecem como alternativa para o problema, causado por eles próprios, é o teletrabalho. O modelo, adotado em larga escala nas unidades no início do ano passado para garantir o distanciamento social e reduzir riscos de contágio por Covid-19, hoje tem sido utilizado pela empresa como uma perspectiva de explorar ainda mais os empregados.
Quem atua neste modelo de trabalho não registra sua jornada e, para atender ao “acordo de demandas”, acaba trabalhando muito mais que as seis ou oito horas previstas, conforme seu cargo ou função. Para a empresa, este formato, no atual modelo, significa economia.
Para os empregados, significa exploração. Há outros problemas no modelo: os empregados assumem custos da empresa sem qualquer ajuda, assumem a responsabilidade pelas condições de trabalho, e ficam com parte de seus direitos trabalhistas em uma zona de incerteza.
“Temos conversado com muitos empregados de áreas-meio. Comum a todos está a indignação com o descaso da direção da Caixa. Hoje, todos sentem que o teletrabalho, que inicialmente foi aplicado para preservar a saúde coletiva, foi desvirtuado, e a empresa acaba definindo sua aplicação sem qualquer diálogo, e cobrando os empregados que estão trabalhando no modelo sem qualquer limite. A empresa precisa garantir espaços físicos a todos que queiram trabalhar presencialmente, e deve garantir que a jornada de trabalho de quem está atuando em teletrabalho não exceda a dos empregados que atuam no presencial. A Caixa precisa, urgentemente, ouvir os empregados, e discutir soluções para estes graves problemas.”
Leonardo Quadros, diretor-presidente da Apcef/SP