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Após copiar discurso nazista, secretário de Cultura é demitido

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Roberto Alvim, entre outras referências ao ministro de propaganda nazista, utilizou frase muito semelhante a trecho de discurso de Joseph Goebbels; Para o Sindicato, Alvim não é uma espécie de “aberração” dentro do governo Bolsonaro, mas sim reflexo de suas políticas autoritárias e antidemocráticas
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Foto: Reprodução

Após forte repercussão negativa de um vídeo em que copia trecho do discurso sobre arte do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, o secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, foi demitido. Além da frase, o vídeo de Alvim ainda traz como trilha de fundo trecho da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, obra que Hitler revelou em sua autobiografia como decisiva na sua vida. 

Para a secretaria de Imprensa do Sindicato, Marta Soares, a postura de Alvim revela o autoritarismo que permeia as políticas do governo Bolsonaro. 

“É inaceitável que uma autoridade brasileira se utilize das palavras e estética nazistas para divulgar políticas autoritárias e antidemocráticas. É um desrespeito com as vítimas de um regime que matou e perseguiu milhões. A demissão de Alvim, diante da repercussão do vídeo, foi a única saída para o governo Bolsonaro. Porém, é preciso que fiquemos atentos ao que está sendo feito com as políticas culturais e sociais no Brasil. O autoritarismo explícito e desavergonhado de Alvim não é a causa das políticas autoritárias na Secretaria Especial de Cultura como, por exemplo, a censura através da exclusão de segmentos da sociedade de editais e da burocratização de processos, como denunciou Wagner Moura, diretor do filme Marighella, que ainda não conseguiu estrear no Brasil. Sua postura é sim um sintoma das políticas autoritárias implementadas em todas as áreas por um governo do qual fez parte. Políticas essas que não vão mudar com a troca de secretário”, comenta a diretora do Sindicato.

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“Não é a primeira vez que um membro do governo Bolsonaro revela seu autoritarismo e desprezo por valores democráticos. Enquanto deputado, o próprio Bolsonaro homenageou um famoso torturador da ditadura. Ao assumir a presidência, deixou claro que governaria apenas para seus apoiadores, considerando inimigos todos que questionem as ações do seu governo, sejam eles jornalistas, trabalhadores, estudantes ou artistas. É preciso reagir a essa perigosa escalada autoritária por parte de um governo que despreza valores democráticos”, acrescenta. 

Compare os trechos dos discursos de Alvim e de Goebbles:

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse Goebbels em pronunciamento para diretores de teatro, de acordo com  “Goebbels: a Biography”, livro de Peter Longerich.

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, disse Alvim no vídeo.

> Assista ao documentário Arquitetura da Destruição, que revela como o aparelhamento da arte por ideias autoritárias e segregacionistas foi fundamental para a propaganda nazista

Repercussão

Após a divulgação do vídeo, a repercussão negativa foi imediata. A embaixada alemã no Brasil se manifestou dizendo que o nazismo é o período mais sombrio da história daquele país e, portanto, não pode ser glorificado, ou banalizado.

“O período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio da história alemã, trouxe sofrimento infinito à humanidade. A Alemanha mantém sua responsabilidade", enfatizou a embaixada em nota publicada em rede social. "Opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo", completou.

Já a Confederação Israelita do Brasil (Conib) defendeu a saída de Alvim da Secretaria Especial de Cultura. "Emular a visão (de Goebbels) é um sinal asssutador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida", afirmou a entidade.

"Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto, o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa, entre  tantas outras vítimas (...). Uma pessoa [Alvim] com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente", conclui a Conib no comunicado.

A Conib é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

Quem foi Goebbels, ministro de Hitler parafraseado por Roberto Alvim

Veja no vídeo abaixo, produzido pela BBC News Brasil, quem foi Joseph Goebbles. 

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