São Paulo – Dentre os vários prejuízos impostos pela direção do Santander aos bancários nos últimos meses, um dos que está causando mais indignação é o aumento abusivo na coparticipação dos procedimentos e consultas médicas vinculadas ao plano de saúde oferecido pelo banco. Sem qualquer negociação com o Sindicato, a empresa determinou reajuste de até 20% para quem aciona o convênio médico.
Esse aumento muito acima da inflação (2,95% em 2017) está gerando grande indignação entre os bancários e foi um dos motivos que levou o Sindicato a deflagrar paralisações em diversos centros administrativos e centenas de agências, no dia 20 de dezembro, e nos call centers, nesta quarta-feira 31.
> Bancários protestam contra Reforma Trabalhista no Santander
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“Estou muito chateada com isso. Mês passado fiz exames ginecológicos, foram vários e este mês tive um desconto de ‘apenas’ R$ 450. Isso é muito para o meu salário total”, queixou-se uma bancária.
“Uma vergonha. No mês de novembro tive um desconto de mais de R$ 800 de coparticipação, e mais R$ 200 de mensalidade do plano, simplesmente fiquei sem salário. Tinha exames e consultas que fiz no mês de junho e descontaram em novembro. Não adianta reclamar. Abri várias reclamações e o convênio disse que estão corretos em cobrar serviços retroativos”, conta outra funcionária.
“Nesses últimos meses só estou trabalhando pra pagar o convênio, pois com todos os meus problemas de saúde, não tem como não usar o convênio”, ponderou outro.
“Não podemos ficar doentes. Somos robôs”, resumiu outro. “Se ficar doente, é melhor partir para o SUS”, opina um colega.
“É uma desumanidade um banco que lucrou 35% a mais em um ano impor um reajuste tão alto aos seus funcionários que se matam de trabalhar e perdem a saúde diante das metas abusivas e do assédio moral praticados a fim de obter esse resultado astronômico”, protesta Maria Rosani, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados do Santander e secretária executiva do Sindicato.
O Santander lucrou R$ 9,9 bilhões em 2017.
> O apetite insaciável de Sérgio Rial
Avalanche de prejuízos – O reajuste abusivo na coparticipação dos procedimentos e consultas médicas é apenas um dos motivos que levou Sindicato e trabalhadores a deflagrarem paralisações em dezembro e janeiro.
Escorado na reforma trabalhista patrocinada pelo setor empresarial e promovida pelo governo Temer e Congresso Nacional, a direção executiva do Santander impôs acordo de horas extras e fracionamento de férias mediante acordo individual. A nova legislação permite que esses dois temas sejam “negociados” diretamente entre patrão e funcionário – sem acordo coletivo –, em uma correlação desigual de forças, já que o funcionário que não aceitar os termos impostos corre o risco de perder o emprego.
Horas extras – Os executivos do Santander estabeleceram a possibilidade de prorrogar em até duas horas a jornada de trabalho, sendo que a compensação dessas horas extras pode ser feita em até seis meses. Essas novas normas foram impostas aos bancários por meio da assinatura eletrônica em um termo individual, no Portal RH.
Essa imposição afronta o artigo 7º da Constituição Federal que determina: o acordo de compensação de horas só pode ser feito por meio de acordo ou convenção coletiva mediante participação do sindicato.
O acordo coletivo dos funcionários do Santander vigente garante o prazo de um mês para compensação da hora extra, com acrescimento de 50% sobre o tempo a mais trabalhado. Ou seja, o bancário que trabalhasse uma hora além da jornada regular poderia compensar uma hora e meia no prazo de 30 dias. Caso a compensação no prazo de um mês não fosse possível, o período a mais era creditado no salário, com acréscimo de 50% em relação a hora normal de serviço, e com reflexos nas demais verbas salariais, como FGTS, férias e 13º.
A extensão do prazo de compensação para seis meses praticamente impossibilita que o prazo a mais trabalhado se converta em remuneração e reflexos nas demais verbas salariais. Além disso, a mudança também acabou com o acréscimo de 50% para compensação.
Fracionamento das férias – Outra alteração determinada pela reforma trabalhista do governo Temer é a negociação direta entre funcionário e empregador com relação às férias, que poderão ser fracionadas em até três períodos, desde que nenhum deles seja menor do que cinco dias. Na prática, o chefe irá determinar como e quando as férias serão gozadas.
Salário e décimo terceiro – Além dessas duas mudanças, o presidente do banco, Sérgio Rial, apenas comunicou que a partir de março de 2018 o salário passará a ser creditado no dia 30, e não mais no dia 20. E o 13º salário será pago em maio e dezembro, e não mais em março e novembro.
“Não aceitaremos que a direção executiva do Santander imponha essas mudanças prejudiciais sem antes negociá-las com o Sindicato, que é o representante legítimo dos trabalhadores. Os protestos continuarão até que o banco aceite sentar à mesa para rever esses temas”, afirma Maria Rosani.