São Paulo – Um dia depois de a Caixa divulgar o maior lucro de sua história para um semestre, surge a informação de que o governo está tomando medidas visando a abertura de capital do único banco 100% público responsável pela administração de diversos programas sociais.
Uma das primeiras iniciativas, segundo o site da Revista Época, é aprovar, em novembro, o novo estatuto do banco, que está sendo desenhado entre a cúpula da instituição e os ministérios da Fazenda e do Planejamento. Ainda de acordo com a Época, a ideia vem sendo defendida pela própria direção da Caixa.
Procurada, a Caixa não respondeu até a publicação desta matéria.
“Qual a razão para o governo Temer pretender abrir o capital de um banco que já é lucrativo e que beneficia milhões de brasileiros por meio da administração de inúmeros programas sociais?”, questiona o dirigente do Sindicato e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados Dionísio Reis. “Essa medida reduzirá o elemento estratégico de indução do desenvolvimento econômico e das políticas anticíclicas a fim de evitar crises na economia”, avalia o dirigente.
Maior lucro da história – A Caixa atingiu lucro líquido de R$ 4,1 bilhões nos primeiros seis meses de 2017, evolução de 69,2% em relação ao mesmo período do ano anterior e o maior resultado para um semestre da sua história. A carteira de crédito alcançou saldo de R$ 715,9 bilhões, avanço de 3,5% em 12 meses. O crescimento das operações de habitação, saneamento e infraestrutura, e crédito consignado foram os principais responsáveis pelo aumento da carteira.
68% do crédito imobiliário – O crédito habitacional da Caixa atingiu o saldo de R$ 421,4 bilhões crescimento de 7% em relação a junho de 2016, o que representa 68,1% do mercado. As operações de saneamento e infraestrutura apresentaram saldo de R$ 79,9 bilhões, avanço de 5,3% em 12 meses.
Para o Programa Minha Casa Minha Vida, em 2016, foram contratados pela Caixa R$ 41,4 bilhões, o equivalente a 355 mil novas unidades habitacionais. Dessas novas moradias, 9,8% foram destinadas à Faixa 1 do programa, que se destina aos beneficiários com renda de até R$ 1,8 mil.
Erradicação da pobreza – A Caixa, como principal agente operador dos programas sociais do governo federal, contribui ativamente para a erradicação da pobreza e para a melhoria da distribuição de renda da população brasileira. Ao final de 2016, foram pagos cerca de 163,8 milhões de benefícios sociais, correspondendo a R$ 28,3 bilhões.
Principal programa de transferência de renda, o Bolsa Família pagou cerca de 158,6 milhões de benefícios em 2016. O valor pago, nesse período totalizou R$ 27,4 bilhões.
Em relação aos programas voltados ao trabalhador, no acumulado do ano, a instituição foi responsável por realizar 164,6 milhões de pagamentos de benefícios, que totalizaram R$ 242,1 bilhões no período. Entre eles o Seguro-Desemprego, Abono Salarial e PIS, que corresponderam a R$ 54 bilhões.
As aposentadorias e pensões aos beneficiários do INSS totalizaram 65,4 milhões de pagamentos, somando R$ 81,5 bilhões em 2016. A arrecadação do FGTS atingiu R$ 119,1 bilhões em 2016 e os saques, R$ 106,6 bilhões. Ao final de 2016, o Fundo era composto por 151,1 milhões de contas.
FGTS – Desde a criação do Fundo de Garantia, mais de R$ 426 bilhões foram aplicados em obras de moradias populares, rodovias, portos, hidrovias, aeroportos, ferrovias, energia renovável e saneamento básico. Mais de 4 mil municípios brasileiros (73%) já tiveram obras financiadas com recursos do FGTS.
Como operador dos recursos do FGTS, a cada 10 minutos a Caixa viabiliza o pagamento de recursos para cerca de mil trabalhadores. São 60 mil pontos de atendimento espalhados pelo Brasil e no exterior que atendem mais de 10 milhões de usuários permanentemente.
“A abertura de capital da Caixa é uma medida equivocada que trará enormes prejuízos à população brasileira, pois os acionistas que negociarão ações do banco na bolsa de valores pressionarão pelo aumento dos lucros, o que irá afetar a função social que a Caixa cumpre atualmente”, reforça o dirigente Dionísio Reis.
Inadimplência menor – Até o índice de inadimplência do banco se mostrou significativamente abaixo da média do mercado, tendo encerrado junho de 2017 com redução de 0,7 pontos percentuais em 12 meses, alcançando 2,51%, ante 3,74% dos demais bancos. Com isso as despesas de PDD tiveram queda de 3,3% no período.
“Ou seja, não há o menor argumento em defesa da abertura de capital da Caixa, a não ser reforçar o caixa do governo, o que poderia ser obtido cobrando as imensas dívidas de grandes empresas e bancos privados, que devem bilhões, ou para agradar os grandes especuladores do mercado financeiro”, afirma Dionísio.
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