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Nubank: Em plenária, trabalhadores mostram indignação e disposição para a luta contra o fim do trabalho remoto

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Imagem de uma plenária virtual, com punhos para cima

Em uma grande plenária virtual promovida pelo Sindicato na noite desta quarta-feira 12, com a presença de quase 300 pessoas, os trabalhadores do grupo Nubank se mostraram completamente indignados com as mudanças no regime de trabalho e manifestaram disposição para a luta, ao lado do Sindicato, contra o fim do modelo atual de trabalho remoto e pela reintegração dos colegas demitidos por criticarem a mudança imposta pela empresa.

O Nubank anunciou, no dia 6 de novembro, a adoção de um novo modelo de trabalho híbrido. O plano prevê dois dias presenciais por semana a partir de 1º de julho de 2026 e três dias a partir de 1º de janeiro de 2027. A mudança, que irá valer para cerca de 70% do quadro de pessoal, será significativa em relação ao atual formato, que exige uma semana de trabalho presencial por trimestre.

Os relatos dos trabalhadores foram unânimes quanto a insatisfação com a mudança de regime de trabalho, levantando pontos como, por exemplo, o fato de muitos terem ido para o Nubank com a promessa de trabalho remoto; a necessidade de mudança para locais com escritórios da empresa, em especial São Paulo, quando já construíram a vida familiar e financeira em outras cidades, inclusive com financiamento de imóveis; e o impacto para trabalhadores responsáveis pelo cuidado de filhos, pais e outros familiares, muitas vezes pessoas com deficiência e neurodivergentes.

Outro ponto abordado foi a forma como a mudança foi comunicada pelo Nubank, sem que fosse apresentada aos trabalhadores qualquer justificativa amparada em dados para a mudança de regime de trabalho. Cabe ressaltar que a mudança no modelo de trabalho não foi negociada com o Sindicato. Na mesma data em que foi anunciada aos trabalhadores, a direção do Nubank se reuniu com o Sindicato e apresentou a sua decisão, comprometendo-se a realizar reuniões periódicas com a entidade.

Os trabalhadores também relataram falta de transparência quanto às consequências para os contratados no regime remoto que eventualmente se recusarem a assinar aditivo contratual para a mudança de modelo. De acordo com os relatos, o Nubank passou a “mensagem” de que “ou aceita, ou será demitido”.

Sobre o formulário de exceções, forma pela qual o Nubank alega que vai analisar casos específicos, os trabalhadores que participaram da plenária informaram que ele só pode ser aplicado por trabalhadores com certo grau de senioridade e que determinadas áreas foram excluídas desta possibilidade.

Demissões

Outro grande motivo de indignação dos trabalhadores foram as 14 demissões por justa causa de trabalhadores que, em reunião na qual foi anunciada a mudança, com a presença do CEO David Vélez, manifestaram sua contrariedade contra a decisão do Nubank.

Para piorar, além do caráter retaliatório destas demissões, segundo o relato dos trabalhadores elas impactaram, sobretudo, colegas de grupos minorizados.

“O Sindicato deixa claro que não aceitará retaliação por conta de manifestações dos trabalhadores pelo descontentamento com o fim do modelo 100% home office. É uma mudança grave, que precisa de diálogo. Os trabalhadores tem que ser ouvidos. Esperamos que, a partir de agora, o Nubank esteja disposto a ouvir as reivindicações que serão apresentadas nas mesas de negociação”

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato

Sindicato é o espaço seguro para a mobilização

Em uma das suas intervenções, a secretária-geral do Sindicato, Lucimara Malaquias, alertou os trabalhadores que o espaço seguro e efetivo para denúncias e organização da luta é o Sindicato. “Os meios seguros para denúncias, reclamações, de expressar a indignação, são os canais do Sindicato. Muito cuidado com grupos que estejam surgindo no Telegram, WhatsApp, em outras ferramentas, que ninguém sabe quem criou. O espaço seguro, com anonimato e sigilo, são os canais oficiais do Sindicato."

Os trabalhadores podem entrar em contato com o Sindicato por meio do Canal de Denúncias ou através do (11) 3188-5200. O sigilo é garantido.

Sindicalização

Também foi destacada na plenária a importância de que os trabalhadores do Nubank se sindicalizem (preencha o formulário no final da matéria), o que amplia a representatividade e o poder de negociação do Sindicato na negociação com a empresa.

“Para fortalecer a nossa luta nesse momento é imprescindível a participação da maior parte dos trabalhadores do Nubank. Convido a cada um que se sindicalize. A sindicalização é extremamente importante para a representatividade na mesa de negociação com o Nubank”, destacou a secretária-geral do Sindicato.

Encaminhamentos

Foi informado ainda aos trabalhadores que novas plenárias podem ser convocadas pelo Sindicato e que está agendada uma reunião com a direção do Nubank para a próxima quarta-feira, 19 de novembro.

“Esse é o momento da gente ter solidariedade com os companheiros que foram injustamente demitidos, lutarmos coletivamente pela reversão destas demissões e para que o Nubank reveja essa decisão de retornar para o presencial. Não existe saída individual. Nós precisamos estar juntos, coletivamente, que é isso que dá força para a luta seguir adiante e conseguirmos resultados positivos”, enfatizou Lucimara Malaquias.

“Nossas prioridades são duas. A discussão e negociação sobre a mudança do regime de home office e a reversão das demissões. O Sindicato vai empreender todos os esforços para tratar destes assuntos. Queremos negociação e diálogo com o Nubank”, reforça o dirigente do Sindicato Marcelo Gonçalves.

Manifesto

Por fim, foi lido durante a plenária um manifesto redigido coletivamente por trabalhadores do Nubank e empresas coligadas, que conta com total apoio do Sindicato. Leia abaixo na íntegra:

Carta aberta dos trabalhadores organizados do Nubank ao CEO e M-Team

Os trabalhadores organizados de todas as entidades legais do Nubank (Nu Asset, Nu Commerce, Nu Crypto, Nu Financeira, Nu Invest, Nu Pagamentos, Nu Pay, Nu Signals, Nu Tech e Olivia) e de todos os países atuantes (Brasil, Colômbia e México) vêm através desta carta manifestar seu repúdio:

  • ao fim unilateral do modelo remoto e a imposição do trabalho presencial a partir de 2026;
  • e às advertências e demissões retaliatórias de funcionários do Nubank que manifestaram seu legítimo descontentamento frente a uma decisão que impôs a todos uma drástica mudança em sua realidade de trabalho sem qualquer negociação prévia.

Em total contraste com o discurso de valorização de feedbacks, diversidade e autonomia, o Nubank reagiu com punição aos trabalhadores e trabalhadoras que se opuseram ao novo regime de trabalho. Oficialmente, 14 demissões por justa causa - um número inédito e alarmante - somadas a diversas advertências diante de reivindicações legítimas, a gestão escolheu a punição em vez do diálogo com os trabalhadores.

Em poucos anos, o Nubank cresceu de 25 milhões para mais de 100 milhões de clientes, superando US$20 bilhões de lucro líquido, consolidando-se como uma das maiores histórias globais de sucesso e como o maior banco da América Latina.

Esse resultado é fruto do trabalho de equipes remotas, diversas e comprometidas, que entregaram crescimento, inovação e eficiência à distância em um modelo de trabalho que já contempla períodos presenciais de uma semana a cada três meses e impulsiona a cultura, colaboração e o fortalecimento das equipes. Essas equipes têm orgulho da empresa que construíram, dos resultados que entregaram, de dia após dia construir a marca mais valiosa do Brasil [1] e um dos melhores bancos do mundo[2] segundo a Forbes.

Por isso, é inaceitável que tamanha mudança seja imposta sem diálogo e sem apresentar qualquer dado, evidência ou justificativa objetiva, ignorando a opinião de mais de 90% da empresa segundo a própria Chief People Officer. O que se vê é uma decisão arbitrária, insensível e sem base empírica, que ameaça o nosso bem-estar, a diversidade e confiança que sustentam nossa cultura e afeta profundamente nossas vidas, famílias e estabilidade financeira.

Não nos concentraremos aqui no fato que o trabalho remoto não reduz a produtividade. As evidências são claras [2] e o próprio Nubank admitiu. Cabe mencionar que políticas de RTO reduzem a satisfação média dos trabalhadores e provoca saída em massa de profissionais qualificados, sobrecarregando os que ficam [3]. Cuidadores familiares (especialmente mulheres), pessoas com deficiência e neurodivergentes são ainda mais afetadas por essas mudanças, causando impacto desmesurado no seu desempenho profissional e qualidade de vida [4,5]. Por fim, deslocar trabalhadores para grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro implica em uma perda de renda real [6] e no decréscimo da qualidade de vida dos trabalhadores.

Portanto, com nossos direitos constitucionais a manifestação e a livre organização [7], viemos exigir:

  • A REVERSÃO DO RTO, com abertura de negociação entre a empresa, seus trabalhadores e a representação sindical.
  • Fim da PUNIÇÃO e RECONTRATAÇÃO IMEDIATA de todos os demitidos por expressarem de forma justa a sua indignação por tamanho impacto nas nossas vidas e nosso trabalho.

Convocamos todes funcionários do Nubank a se somarem nessa luta.

Fontes:

  • “Com valor recorde, Nubank ultrapassa Petrobras e lidera ranking das maiores empresas do país” Redação g1 - 29/10/2025
  • WORLD’S BEST BANKS. Forbes, 09 abr 2025
  • Nicholas Bloom et al., “Hybrid working from home improves retention without damaging performance”, Nature, Volume 630, Julho 2024. DOI: 10.1038/s41586-024-07500-2.
  • “Ordered back to the office, top tech talent left instead, study finds.” Apple, Microsoft and SpaceX case study. The Washington Post, 13 maio 2024.
  • “Diversity will suffer with five-day office mandates, research suggests.” Washington Post, 14 nov 2024.
  • “The workers who feel left behind by return-to-office policies.” Washington Post, 19 abr 2025 (neurodivergência/deficiência).
  • “Return-to-office mandates are, effectively, an invisible pay cut.” Washington Post, 6 dez 2024.
  • Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências.
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