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Coronavírus

Caixa: descaso e incompetência do governo no pagamento do auxílio emergencial recaem sobre os bancários

Linha fina
Em plena pandemia, empregados estão prestando grande função social ao atender a parcela mais vulnerável da sociedade; falta de informações, falhas no sistema e concentração do pagamento do auxílio emergencial em apenas um banco público estão gerando filas intermináveis e tensão nas agências
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Foto: Seeb/SP

Em plena pandemia do coronavírus, os trabalhadores bancários estão na linha de frente da crise sanitária, mantendo o atendimento de um serviço essencial à população e enfrentando diariamente os riscos da exposição ao vírus.

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O Sindicato dos Bancários de São Paulo, desde o início da crise sanitária, luta para que a categoria tenha condições de trabalho e preserve a saúde, cobrando dos bancos o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs). O movimento sindical garantiu, em negociação com a Fenaban (federação dos bancos), a manutenção dos empregos e a permanência de mais de 230 mil bancários em home office.

Sindicato reforça importância da negociação diante da crise
> Fim do home office só após negociação com movimento sindical

“Toda a categoria bancária merece o respeito da população nesta crise por estarem encarando todos os dias os riscos da covid-19. E os trabalhadores da Caixa ainda têm de lidar com os problemas decorrentes do pagamento do auxílio emergencial. Problemas que envolvem falhas no sistema, falta de informações e concentração das operações em apenas um banco público”, enumera Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

“Essa situação é de responsabilidade única e exclusiva do governo federal, e não dos bancários ou da Caixa, que se mostram essenciais neste momento. A incompetência e descaso da gestão Bolsonaro estão desabando sobre as costas dos empregados da Caixa e sobre a população”, denuncia a dirigente.

Novela do auxílio emergencial

Desde antes de o coronavírus começar a se disseminar no Brasil, as comunidades médica e científica já alertavam sobre a urgência da instauração de um isolamento social a fim de frear o aumento da contaminação e das mortes. Contudo, essa medida invariavelmente resultaria na perda da renda para grande parte da população: autônomos, trabalhadores informais, desempregados. Passou-se então a discutir o pagamento de uma renda emergencial.

O primeiro caso de covid-19 foi notificado no Brasil em 26 de fevereiro. A proposta de criar um auxílio para trabalhadores informais foi anunciada pelo governo federal somente em 18 de março, com o pagamento de apenas R$ 200 mensais por até três meses. Apesar do anúncio, o governo não enviou nenhum projeto ao Congresso.

Após repercussões negativas na sociedade e pressão da oposição no Congresso Nacional, em 26 de março o presidente Bolsonaro aceitou aumentar o valor para R$ 600. Com isso, o projeto foi aprovado pelos deputados no mesmo dia, e pelo Senado no dia 30 de março. No dia 2 de abril, o pagamento do auxílio foi sancionado pelo presidente.  

Caixa e seus empregados na linha de frente

A Caixa ficou responsável pelo pagamento dos auxílios emergenciais. A mesma Caixa Econômica Federal que desde o golpe de 2016 vem sendo sucateada e perdeu quase 20 mil empregados. A mesma Caixa Econômica Federal que, sob orientação do Ministério da Economia, está abandonando seu perfil de banco público e social e adotando operações visando negócios e clientes de rendas mais elevadas.

Filas, tensão e foco de coronavírus

Importante ressaltar que a Caixa não tem responsabilidade pelos critérios adotados para o pagamento do auxílio emergencial. O banco só tem a função exclusiva de pagar o auxílio.

E com a decisão de concentrar os pagamentos em apenas um banco público, as agências da Caixa passaram a ser palco de filas intermináveis e possível foco de disseminação da doença, situação que está resultando em tensão entre a população e os bancários.

“O pior do trabalho no covid é ver como falam da Caixa e dos empregados. Ver como colocam o empregado: que não merecemos ser protegidos, que temos de estar atendendo. Como se nós, funcionários da Caixa, fossemos descartáveis, de segunda classe, que não tem importância se ficarmos doentes. Bancário não tem nenhum tipo de imunidade especial”, desabafa uma empregada da Caixa.

“Eu vejo como a imagem do bancário da Caixa é pouco valorizada. Tudo é culpa do bancário. É a primeira vítima a ser colocada na linha de frente. Agem de uma forma como se o bancário não tivesse família. Me dói ver que, para a mídia em geral, deputados e senadores, os colegas podem ficar expostos dessa forma.  Me dói também que a direção da Caixa não tome nenhuma atitude, que seja uma peça publicitária, defendendo esses empregados que estão se expondo para atender a população, mostrando que a aglomeração não é culpa do funcionário. É culpa de um erro do governo. É um erro do cadastramento”, acrescenta a trabalhadora.

“Minha revolta neste momento são as matérias tendenciosas da Rede Globo. Denigrem trabalhadores indiretamente e estimulam um público hostil que acham que ‘estamos fazendo errado’. Os empregados estão arriscando vidas!”, afirma outro trabalhador.

 “Apesar do trabalho essencial promovido pela Caixa e pelos seus empregados, que estão cumprindo uma importante função social em plena pandemia para atender a parcela mais vulnerável da sociedade, o caos infelizmente está instalado por culpa do governo, que deveria ampliar informações à população, aprimorar o aplicativo do auxílio emergencial, e implantar um sistema para o atendimento nas agências, como corre nas unidades do INSS, a fim de diminuir as aglomerações”, afirma Ivone Silva.

“A Caixa é o principal banco público do país e, no momento atual, se mostra ainda mais essencial, apesar dos ataques e sucateamento que vem sofrendo desde o golpe de 2016. Se a Caixa não existisse como banco público e social, uma situação que já está muito preocupante seria calamitosa. Por isso a defesa da Caixa é uma luta que deve ser abraçada por toda a sociedade. E os trabalhadores merecem todo o respeito da população, governo e mídia”, finaliza a dirigente.  

 

 

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