Nesta quinta-feira 27 - Dia Nacional de Luta pela inclusão da categoria como prioridade no Plano Nacional de Imunização (PNI) e por vacina para todos - o médico pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Ubiratan de Paula Santos, participou de debate promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e Fetec/CUT-SP, com dirigentes sindicais bancários de todo o estado de São Paulo. Em pauta: a pandemia de coronavírus, vacinação e medidas de prevenção nos locais de trabalho.
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Retorno ao trabalho presencial
O médico foi enfático ao afirmar que, no atual cenário da pandemia, não é o momento de se debater qualquer retorno ao trabalho presencial dos bancários hoje em home office. “Eu defendo a ideia de que nesse estágio da pandemia não se deve reabrir nada. Pelo contrário, devemos aumentar as restrições.”
O Brasil confirmou mais 2.245 vítimas de covid-19, totalizando 456.753 óbitos desde o início da pandemia, e atingiu a marca de 2.140 mortes por milhão nesta quinta-feira 27. Com isso, o país ultrapassou a Bélgica e subiu para a oitava posição no ranking de nações com mais óbitos por milhão em decorrência da Covid-19. Nas últimas 24h, foram confirmados 65.672 novos casos da doença. Além disso, sete estados estão com ocupação de leitos de UTI acima de 90% e a taxa de contágio superou o teto de 1 pela primeira vez em dois meses nas cinco regiões do país. Outro dado importante é que pela primeira vez a média de idade nas internações está abaixo dos 60 anos.
Sobre os trabalhadores que já receberam as duas doses da vacina, o médico avalia que não é o momento também para essas pessoas retornarem às atividades presenciais. “O bancário vacinado, se ele vem trabalhar e tem contato com pessoas no trajeto, ou que entram na agência, nós não sabemos se mesmo ele assintomático não pode se contaminar, ir para a casa e contaminar familiares. E vice-versa. Nós não sabemos ainda o quanto o indivíduo vacinado pode transmitir o vírus.”
A média de desligamentos por morte na categoria bancária saltou de 18,3 óbitos/mês no primeiro trimestre de 2020 para 50,6 óbitos/mês no primeiro trimestre de 2021, crescimento de 176,4%. Os dados são de levantamento feito pelo Dieese a partir do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que não especifica as causas das mortes. Mesmo assim, é possível deduzir que esse aumento está relacionado com os óbitos de bancários por Covid-19. O levantamento do Dieese aponta também que, entre abril de 2020 a março de 2021, ocorreu o falecimento de 418 trabalhadores da categoria, sendo que 69,8% deles de três ocupações que, em sua maioria, tinham de trabalhar presencialmente: escriturário, caixa e gerente de conta.
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Para o Dr. Ubiratan, apenas uma redução drástica no número de casos de Covid-19, associada à vacinação ampla da população, viabilizaria o debate sobre o retorno dos trabalhadores hoje em home office ao trabalho presencial.
Testes
No debate, o Dr. Ubiratan defendeu ainda que os bancos deveriam realizar testes em todos os clientes que entrarem nas agências. "Os clientes deveriam ser testados, com teste de antígeno, que fica pronto rapidamente, toda vez que entrarem na agência. Aguarda o resultado e entra na agência. E todos os trabalhadores da agência devem ser testados continuamente, de duas a três vezes por semana."
Máscaras
O médico defendeu ainda que sejam fornecidas aos bancários máscaras N95, padrão PFF2, e rebateu a alegação dos bancos de que existem dificuldades para a compra em quantidade adequada destes equipamentos de proteção.
"Não há dificuldade para comprar máscara N95 PFF2. Primeiro, que elas duram mais. Você não tem que jogar fora todo dia. Você pode usar uma semana, repousar a máscara, usar outra e voltar a usar essa que eu já tinha utilizado depois de 48h de descanso. Eles [os bancos] tem de resolver esse problema fazendo compras nacionais ou internacionais", enfatizou.
Dr. Ubirtan orienta que, enquanto os bancos não fornecerem máscaras N95 PFF2 aos bancários, os trabalhadores, para uma proteção eficaz, devem utilizar uma máscara cirúrgica com uma de pano por cima.
Ventilação
Sobre a ventilação nos locais de trabalho, o Dr. Ubiratan alerta que as agências devem ter um sistema de renovação do ar adequado.
"Não é que não se possa usar ar-condicionado. O que precisa é um sistema de ar-condicionado que retire o ar do ambiente e capte ar novo, filtrado, em uma taxa de renovação que seja de acordo com o volume do ambiente e o número de pessoas que lá trabalham e frequentam (...) Não dá para trabalhar com aquele ar-condicionado de parede, com circulador ou refrigerador de ar, como temos em restaurantes muitas vezes, que dá o conforto térmico, mas espalha o vírus", explica o médico.
"Eu não conheço a situação das agências, mas elas podem trabalhar de portas fechadas, desde que com um sistema que renove o ar, com uma taxa de renovação maior que o habitual por conta do vírus. Isso é possível dimensionar. Engenheiros que mexem com ventilação fazem isso com tranquilidade. Vai ter um custo para a agência, mas eles [bancos] tem de colocar a mão no bolso", acrescenta.
Negociação
Depois de mais de um ano de cobranças pelo movimento sindical bancário, a Fenaban (federação dos bancos) finalmente apresentou proposta de protocolo de segurança unificado contra a Covid-19, em mesa de negociação realizada na última segunda-feira 24.
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O Sindicato irá analisar a proposta, levando em consideração todas as contribuições colocadas pelo Dr. Ubiratan de Paula Santos sobre os protocolos necessários para preservar a vida de trabalhadores e clientes, que será debatida em uma próxima mesa de negociação com a Fenaban.
O Dr. Ubiratan de Paula Santos possui graduação e doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Atualmente é professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e médico assistente do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas.