A cada dez feminicídios (assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher) cometidos na América Latina e Caribe em 2017, quatro deles ocorreram no Brasil. Os números, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), mostram que, no ano passado, ao menos 2.795 mulheres foram assassinadas na região, 1.133 delas somente no Brasil. O país ocupa a quinta posição no ranking dos que mais matam mulheres no mundo, ainda de acordo com a ONU.
Além do feminicídio, outras diversas formas de violência contra as mulheres estão entre os assuntos debatidos nas atividades em alusão ao Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, no domingo 25.
Neste Novembro da Resistência – que também alude a outra data importante no mês, o Dia da Consciência Negra (20) –, o Sindicato lista alguns filmes que levantam a discussão sobre a importância da luta contra o feminicídio e a violência doméstica. Confira!
Alice Não Mora Mais Aqui (1974)
Dirigido por Martin Scorsese, o road movie tem como protagonista Alice Hyatt (Ellen Burstyn, vencedora do Oscar de melhor atriz pelo papel), que fica viúva após perder o marido, um motorista de caminhão, em um acidente. Com um filho para criar, luta pela sobrevivência primeiramente como cantora. Mas, em virtude de um relacionamento abusivo com Ben Everhart (Harvey Keitel), foge da cidade e vai trabalhar como garçonete em outra localidade dos Estados Unidos. Lá, se envolve com David (Kris Kristofferson), um fazendeiro divorciado.
A Cor Púrpura (1985)
Em uma pequena cidade dos Estados Unidos, Celie (Whoopi Goldberg), uma jovem com apenas 14 anos violentada pelo pai, torna-se mãe de duas crianças. Além de perder a capacidade de engravidar novamente, ela imediatamente é separada dos filhos e da irmã e “doada” a Mister (Danny Glover), que a trata simultaneamente como escrava e companheira. Solitária, a protagonista do filme de Steven Spielberg compartilha sua tristeza em cartas para Deus e para a irmã que trabalha como missionária na África.
Um Céu de Estrelas (1996)
Longa-metragem de estreia da cineasta Tata Amaral, traz a história de Dalva (Leona Cavalli), que trabalha como cabelereira no bairro da Mooca, em São Paulo. Ela resolve romper seu relacionamento de 10 anos com o metalúrgico Victor (Paulo Vespúcio) após ganhar uma passagem para Miami, onde irá concorrer na final de um concurso de cabelos. Dalva vê na viagem a possibilidade de se livrar do universo opressivo em que vive, mas seus planos acabam sabotados pelo ex-companheiro.
Para Sempre Lilya (2002)
Baseado em uma história real, o longa-metragem sueco retrata a vida de Lilya (Oksana Akinshina), uma adolescente de 16 anos que vive na Rússia após o fim da União Soviética. Abandonada pela mãe, que viaja para os Estados Unidos com o novo namorado, sozinha e miserável, a garota não encontra outra alternativa para sobreviver que não a prostituição. Seu relacionamento com os clientes é pautado pela violência e objetificação da mulher. Lilya então conhece Andrei (Pavel Ponomaryov), que a leva para a Suécia na promessa de uma vida melhor.
Pelos Meus Olhos (2004)
Trama dirigida pela diretora de origem basca Iciar Bollain traz a protagonista Pilar (Laia Marull), que decide fugir de casa levando consigo apenas alguns pertences e o filho. Mas Pilar sabe que seu marido, Antonio (Luis Tosar), irá procurá-la. O título do filme em espanhol, “Te Doy Mis Ojos” (Te Dou Meus Olhos), remete a uma frase dita corriqueiramente por Pilar ao marido.
Silêncio das Inocentes (2010)
O documentário mostra no Brasil a aplicação da Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) e traz depoimento de vítimas, autoridades e especialistas no intuito de ampliar a visibilidade sobre a violência doméstica, além de promover o debate e a reflexão sobre o assunto no país.
A Fonte das Mulheres (2011)
Num remoto vilarejo marroquino, a jovem Leila (Leïla Bekhti) perde o filho durante a gravidez, ao escorregar na descida de uma colina onde as mulheres locais trazem água em pesados baldes (enquanto isso, os homens fumam, bebem chá e jogam papo fora). Leila então tem uma ideia revolucionária: as mulheres devem fazer greve de sexo até que os homens se mexam para reverter a situação.
Miss Violence (2013)
Produção grega, conta a história de uma família – formada por avô, avó, filhas e netas – que mora em um pequeno apartamento. Um dia, ao comemorar o aniversário de 11 anos da pequena Aggeliki (Chloe Bolota), a família é surpreendida pelo suicídio da garota, que se joga pela janela. A investigação, realizada pelos próprios espectadores em paralelo à polícia e à assistência social, mostra uma rotina de abusos físicos e psicológicos contra as mulheres da casa.
Sindicato engajado na luta
A questão da violência contra a mulher é debatida pelo Sindicato desde antes da criação da Lei Maria da Penha, há 12 anos. Por meio de campanhas, atos e debates, a entidade atua na luta por mais investimentos e políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. A partir do golpe de Temer e dos empresários, os casos só aumentaram e a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres deixou de ter status de ministério.
“O Sindicato sempre debateu essa pauta e participou ativamente pela aprovação, divulgação e cobrança de implementação da Lei Maria da Penha e de políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres no âmbito nacional e internacional. Esta seleção de filmes demonstra que a questão não é vitimismo ou ‘mimimi’, como dizem os conservadores. É uma questão de direito à vida e deve ser defendida por todos e todas”, salienta Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato.
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