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Chapéu
Novembro da Resistência

Meu cabelo e a cor da minha pele te incomodam, por quê?

Linha fina
No dia 20 de novembro, em que celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil, o Sindicato convida a sociedade a uma reflexão e questiona: porque a cor da pele e o cabelo ainda são obstáculos muito presentes no mundo de hoje
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Foto: Reprodução Facebook

“Eu sou mais do que você vê, sou fruto da resistência e da luta de muitos. Sou fruto do sangue, do choro e do suor dos meus ancestrais. Sou aquela que causa desconforto aos seus olhos por estar em lugares que na teoria seriam seus.” Esse trecho é parte de uma resposta da blogueira e dona de um brechó Yasmin Stevam, nas suas redes sociais, ao ataque racista que sofreu após participar de um programa de TV e dizer que não arrumou emprego por conta do cabelo.

Negra e linda, Yasmim chama atenção nas redes sociais pelas belas fotos e pelo cabelo crespo volumoso. Mas isso não é motivo e nem será para ela se calar diante do preconceito e do racismo existente no Brasil. Ela dispara:

“A crueldade do racismo é escancarada e tão cruel ao ponto de fazer com que seus próprios irmãos reproduzam atos racistas. Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele de tal forma que você passa alvejante para ficar como o homem branco? Quem te ensinou a odiar a forma do nariz e a forma dos seus lábios? "

A violência psicológica e moral sofrida por Yasmim estão entre os assuntos discutidos no Novembro da Resistência promovido pelo Sindicato Cidadão, que celebra o Dia da Consciência Negra na terça-feira 20 e, no dia 25, o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, que dá início aos 16 dias de ativismo articulados mundialmente contra a violência. 

Relatório do Ligue 180 comprova que, mesmo com avanços na lei e das politicas públicas, o Estado não conseguiu barrar a violência de gênero. De um total de 555 mil ligações, quase 68 mil dos atendimentos eram relatos de violência que foram classificados como violência física (51,06%); violência psicológica (31,10%); violência moral (6,51%); cárcere privado (4,86%); violência sexual (4,3%); violência patrimonial (1,93%); tráfico de pessoas (0,24%).

Nesses atendimentos, 59,71% das mulheres que relataram casos de violência eram negras e a maioria das denúncias foi feita pela própria vítima (67,9%).

Mulher negra no mercado de trabalho

A blogueira Yasmim Stevam se tornou ainda mais conhecida após relatar em um programa de TV que participou de várias entrevistas de emprego e nunca era chamada. Ela acredita que isso acontecia por conta da cor da pele e das tranças longas que usava no cabelo.

“Percebia que a entrevistadora falava a todo o momento sobre o padrão das vendedoras (não tinha negras) e que queria acabar logo com o assunto para eu ir embora. Depois de muito refletir, resolvi assumir meu cabelo e abri meu próprio negócio”, conta.

A discriminação sofrida pela blogueira não é a única. Dados do IPEA, de 2009, mostram que no Brasil havia um contingente de 53.566.935 mulheres negras, dentre uma população residente estimada em 201,5 milhões de pessoas e que 51,1% das famílias se declararam chefiadas por mulheres negras; elas que recebiam 51,1% do rendimento das mulheres brancas; de cada cem mulheres negras chefes de família, onze estavam desempregadas, e entre as brancas este número era de apenas sete. Embora tenham constituído um grupo social com escolaridade acelerada e melhor participação e desempenho do que os homens negros isso não teve reflexo na hora de conseguir um emprego.

"As empresas investem muito no debate de respeito a diversidade, mas há muito que avançar ainda. Se olharmos nos bancos, a representatividade negra é pouco visível. Nós lutamos para que essa realidade se transforme e para que cada vez haja mais negros e negras nos locais de trabalho sem discriminação de forma alguma. Por isso, lutamos pelo Censo da Diversidade para acompanharmos essa evolução", diz a diretora Ana Marta, do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato.

O Censo da Diversidade é uma conquista dos bancários. Trata-se de um mapeamento, realizado pelos bancos, sobre a mão de obra no setor, comparando também cargos e salários: número de mulheres e homens, negros e negras, PCDs (pessoas com deficiência) e as posições que ocupam nos bancos. A primeira edição da pesquisa foi realizada em 2008 e a segunda e última em 2014, ambas revelaram que a desigualdade ainda é grande nos bancos: homens ganham mais que mulheres e negros e negras ainda são muito poucos no setor. Em 2014, as mulheres ganhavam em média 23% menos que os bancários, e negros e negras correspondiam a apenas 3,4% da categoria. Na Campanha deste ano, os bancários conquistaram o compromisso da Fenaban (federação dos bancos) em realizar um novo Censo da Diversidade. 

Mais sobre o assunto

Durante o mês de novembro, vários sites debateram a questão da Consciência Negra. O site DRelacionamentos trouxe de forma bem humorada, mas vale a pena assistir, refletir e repensar. Afinal, a sociedade será melhor para todos se houver diretitos e tratamentos iguais.

Confira:

 

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