A primeira mesa de debates da 21ª Conferência Nacional dos Bancários, aberta oficialmente na noite de sexta-feira 2, foi sobre análise de conjuntura. O debate, realizado na manhã deste sábado 3, contou a presença de lideranças como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad; o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos; o senador chileno Alejandro Guillier; além de representantes de entidades sindicais.
O senador chileno iniciou sua fala contando que se informou pela imprensa da intenção do ministro da Economia Paulo Guedes de implementar, no Brasil, um sistema econômico e previdenciário similar ao adotado pelo Chile a partir da ditadura de Pinochet. Ele aproveitou para destacar as particularidades e semelhanças entre os dois países.
“Primeiro, o Brasil tem sua economia bastante voltada para o mercado interno. Chile depende quase exclusivamente das importações e exportações. No Chile, quando o ciclo de importações e exportações cai, a economia se paralisa. São mundos completamente distintos”, explicou. “Segundo, no Chile toda essa reforma ocorreu durante a ditadura militar, quando não houve nenhuma discussão e nenhum Congresso, sendo imposta pela força. Numa democracia, jamais se aceitaria no Chile essa reforma”, completou, fazendo referência à proposta de reforma da Previdência que tramita no parlamento brasileiro.
Guillier demonstrou, também, preocupação sobre os rumos dos avanços tecnológicos, a precarização nas relações de trabalho e seus impactos no sistema previdenciário.
“Vemos no Chile, um desaparecimento de empregos pela automatização do setor de serviços. No setor produtivo e mineiro, a robotização. E se discute uma reforma previdenciária, mas sem trabalho. E se o trabalhador não tem provisões, de que reforma estamos falando? Como pretende esperar melhores pensões se a maioria dos trabalhadores no Chile não está filiado a nenhum sistema previdenciário, e por isso mesmo depende de si mesmo? E ainda dizem a ele: 'você não é um trabalhador, é um empreendedor'”, encerrou.
Fernando Haddad afirmou que, no Brasil, o autoritarismo do governo federal se soma a uma postura entreguista, que se desfaz do patrimônio brasileiro sem que o povo seja consultado.
“Não se discute absolutamente nada com a população. Essa semana o ministro da Economia disse com todas as letras: por mim eu vendo tudo. E não se discute! Você faz pesquisa de opinião, e é como se elas não existissem! Cerca de 80% da população é contra a exploração por mineradoras em reservas indígenas. E daí? O Bolsonaro não é! O povo é contra as estatais na bacia das almas, como se tem feito com a BR Distribuidora. Daqui a pouco não vamos ter o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal! No país que tem o pior sistema de crédito do mundo, o maior spread bancário do mundo, corremos o risco de piorar a situação! E isso sem consulta! Corremos o risco de ficar sem os bancos públicos, que seguraram a onda da crise de de 2008, com determinação do governo da época, que tinha compromisso com o desenvolvimento nacional”, pontuou.
Guilherme Boulos completou a análise, caracterizando a estratégia da presidência como “Doutrina do Choque”.
“A Doutrina do Choque é quando você desarma, desmonta, cria caos e confusão, deixa uma sociedade totalmente atordoada, quebra as forças de resistência para depois impor seus interesses sem nenhum tipo de dificuldade. É isso que está sendo aplicado aqui no Brasil. O governo está neutralizando as reações e normalizando os absurdos. É uma técnica militar”, analisou. “A gente precisa se desafiar a algo que a esquerda lamentavelmente deixou de fazer há muito tempo, que é voltar a fazer trabalho de base, dialogar com as categorias, com o povo, com as periferias em especial”, completou.
A 21ª Conferência Nacional dos Bancários continua na tarde e noite deste sábado, com as mesas sobre Soberania Nacional e sobre Previdência. E será retomada no domingo 4, com a mesa "Futuro do trabalho, impactos e organização sindical" e plenária final que aprovará as resoluções da Conferência. Acompanhe o evento aqui pelo site e pelas redes sociais do Sindicato dos Bancários de São Paulo: facebook.com/spbancarios e twitter.com/spbancarios.
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