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Chapéu
Conferência dos Bancários

Capital internacional ameaça soberania nacional

Linha fina
Na segunda mesa da Conferência Nacional dos Bancários, palestrantes afirmaram que economia altamente dependente da financeirização impede projeto de desenvolvimento nacional baseado na produção, gerando concentração de renda, desemprego e colocando em risco a democracia
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Foto: Jailton Garcia/Contraf-CUT

“A economia não pode ficar apenas na mão dos economistas, pois se tratam dos nossos recursos financeiros. A categoria bancária tem de ajudar a população a entender esse sistema, e como ele pode ser resgatado.” A avaliação é do economista Ladislau Dowbor e foi feita neste sábado 3, durante a segunda mesa da 21ª Conferência Nacional dos Bancários, que abordou a questão da soberania nacional. A mesa teve a coordenação da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Ivone Silva.

Leia reportagens sobre as demais mesas e a plenária final da Conferência:
Mesa de abertura da 21ª Conferência Nacional dos Bancários
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Carlos Gabas: “Não existe reforma. É ajuste fiscal nas costas do trabalhador”
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Plenária final: bancários reafirmam defesa da soberania nacional

“Um bilionário que aplica um bilhão com rendimento de 5% ao ano vai ganhar 137 mil dólares por dia. Esse sistema permitiu a principal deformação econômica do planeta que é 1% [mais rico da população mundial] ter mais que os 99% restantes. Não funciona em termos éticos e não funciona em termos econômicos”, criticou. 

Segundo Dowbor, a dinâmica atual da economia global, cada vez mais baseada em aplicações financeiras, representa grave ameaça à soberania nacional. Isso porque o dinheiro circula em nível internacional, enquanto os governos operam em nível nacional.

“As finanças passaram a dominar as corporações produtivas. Quem controla a Samarco? A Billiton, que tem sede na Austrália e não tem nem ideia do que é a Samarco, mas exige um bilhão de dólares da extração de minério de ferro no Brasil. A outra metade da Samarco é da Vale, que hoje já opera como uma holding financeira controlada pelo Bradesco, que nunca apareceu nas notícias sobre a tragédia de Mariana. As economias dependem muito mais das decisões do sistema financeiro do que das empresas”, afirmou.

Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reforçou a opinião dando o exemplo do minério de ferro que sai do Brasil com preços muito abaixo do valor de mercado e chegam aos locais de destino com o preço definido pelo mercado internacional. “Esse minério sai dos portos do Pará e do Maranhão custando 30 dólares a tonelada e, no meio da viagem, é precificado a 100 dólares. O Maranhão e o Pará hoje estão quebrados. E não tem um procurador da república para investigar essa questão”, protestou.

Stédlile traçou um paralelo entre a burguesia brasileira e a burguesia industrial europeia, responsável pela constituição dos estados nacionais no século 19. “Florestan Fernandes já tinha alertado sobre a natureza da burguesia brasileira que não é nada nacionalista. Agora está cada vez mais claro. Os capitalistas do Brasil não têm nenhum interesse em defender a nação. A atual crise econômica levou ao fechamento, só no estado de São Paulo, de 2.325 indústrias. Todas brasileiras. E você não viu uma linha da Fiesp, ou algum líder burguês no Congresso Nacional se referindo a este fato.”

Para Stédile, os campos progressistas devem voltar a defender pautas nacionalistas. “Está faltando nas forças populares colocar na pauta a necessidade da defesa dos bancos públicos, empresas estatais, recursos naturais. Dias 4 e 5 de setembro, no auditório Nereu Ramos, no Congresso Nacional, faremos uma plenária para um grande ato em defesa da soberania nacional”, afirmou.

Ele também defendeu a unidade de pautas como a defesa da educação e da Previdência Social como formas de mobilizar a sociedade.

Em sua fala, o senador Jaques Wagner (PT-BA) criticou o avanço da inteligência artificial e das novas tecnologias sobre a economia. “A soberania nacional está indo para o ralo pela via da internacionalização do capital e pela via dos aplicativos. Hoje já são 5 milhões de brasileiros que trabalham no Uber ou no iFood. E a relação capital/trabalho é zero. Não existe. É a escravidão moderna. Essa economia moderna não quer nem saber quem é o operário. Não tem horário de trabalho, não tem carteira de trabalho, não tem previdência social, não tem assistência. É isso que a inteligência artificial está prometendo.”

O senador também alertou para a ameaça à soberania nacional representada pela massificação e dependência das redes sociais. Ele citou como exemplo a Primavera Árabe, movimento iniciado nas redes sociais com bandeiras como democracia e liberdade, que resultou em guerras e conflitos em países como Líbia, Tunísia, Egito e Síria. Também lembrou que as fake news disseminadas nas redes sociais foram determinantes para a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, pela saída do Reino Unido da União Europeia, e pela eleição de Jair Bolsonaro no Brasil.

“O presidente cuida do circo, ele transformou a figura do presidente da República em algo grotesco, em algo risível e medíocre que é estranhado no mundo inteiro. E enquanto ele distrai a nação com esse circo, falando asneiras de manhã, de tarde e de noite, afrontando a inteligência nacional, agredindo os valores mais elementares da democracia, o [ministro da Economia] Paulo Guedes e a sua turma vão fazendo o serviço principal: meter faca no patrimônio nacional e na economia brasileira. Esse é o desafio que estamos vivendo.”

> Artigo: Bolsonaro encaminha desmonte da soberania à espera de milagres externos

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