Na manhã desta segunda-feira 8, o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou de um debate virtual com dirigentes e funcionários do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Durante a sua intervenção, Padilha afirmou categoricamente que o presidente da República, Jair Bolsonaro, “não quer vacinar a população”, além de traçar um panorama do cenário da pandemia de coronavírus no país que, de acordo com o parlamentar, deve repetir 2020 ou ser ainda pior.
> Sindicato cobra da Fenaban reforço do home office e de medidas contra o coronavírus
“Na minha opinião, Bolsonaro não quer vacinar o povo brasileiro. São três motivos: com a sua postura ele dialoga com um segmento político conservador importante, que nega a vacina e nega a ciência. Ele não quer perder essas pessoas. Se isso significa 10%, 15% da população, ele quer essas pessoas junto com ele (…) O segundo motivo é o seguinte: para o Brasil vacinar como pode vacinar, 170 milhões de brasileiros até agosto, Bolsonaro precisa fazer parcerias com governadores e prefeitos, o que ficou claro que ele não quer, e precisa compartilhar com outros países. Bolsonaro poderia, desde novembro, ter feito um convênio com a Argentina, que está utilizando três vacinas. Já fizemos isso outras vezes, mas ele não tem interesse. Não tem interesse de ter a Argentina como parceiro. Não tem interesse em conversar com a Rússia. Não tem interesse em conversar com a China”, afirmou o ex-ministro da Saúde.
> Vacina gratuita para todos os brasileiros já!
Para Padilha, Bolsonaro também utiliza o atraso da vacinação como forma de desmobilizar a sociedade. “Agora, tem um terceiro motivo que, hoje, eu estou convencido. Tinha dúvida, mas quando Bolsonaro se negou a comprar a vacina da Pfizer, que ofereceu 70 milhões de doses. Ali, não era a vacina do Dória, não era a vacina da China, é uma vacina que ele tinha tudo para comprar, a mesma que o Trump tinha comprado. Bolsonaro não quer o povo vacinado porque o povo vacinado se sente mais seguro para ir pra rua, para fazer movimentação política. Quando vacinar todo mundo, as universidades voltam a ter aula presencial as escolas secundaristas voltam, isso significa gente fazendo barulho, indo para a rua, sendo convocada para protesto. Quem é dirigente sindical, sabe. Quando a categoria estiver vacinada, não vai deixar privatizarem o BB, privatizarem a Caixa, como eles querem (…) Bolsonaro percebeu que atrasar a vacinação, é atrasar a mobilização social na rua."
> Como seria o enfretamento da pandemia sem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil?
Pandemia em 2021
Segundo Padilha, as perspectivas sobre a pandemia de coronavírus neste ano não são nada animadoras. De acordo com o deputado, 2021 deve repetir o mesmo cenário de 2020, ou ainda pior.
> Ivone Silva: mercado de trabalho, o pior está por vir
“Nós temos todas as variáveis para a gravidade do problema de saúde ser igual ou pior do que foi no ano passado (…) Primeiro pela pressão nos serviços de saúde. Ficamos um ano inteiro com as pessoas não podendo fazer seus check-ups, adiando cirurgias eletivas, adiando tratamentos, vários profissionais de saúde morreram, o Brasil foi o país com mais óbitos de profissionais de enfermagem, sem contar os impactos sociais, problemas graves de saúde mental. Tudo isso explode esse ano. Uma situação de pressão e fragilização maior do sistema de saúde. A segunda questão é que a pandemia do H1N1 durou 14 meses, e ela quando começou já tinha medicamento eficaz, a vacina era mais rápida, já que era só adaptar as vacinas de gripe. Em seis meses, já tínhamos vacina e fomos o país que mais vacinou. Mesmo com tudo isso, durou 14 meses. Desde o início, eu digo que não tem como a pandemia de Covid-19 durar menos que a de H1N1. Essa pandemia dura, com certeza, até o primeiro semestre de 2022”, explicou Padilha.
“Outro motivo é que o vírus age de uma maneira diferente. A imunidade após o contágio é transitória. Não é igual o sarampo, que você pega uma vez e nunca mais vai pegar. O maior exemplo disso é a situação de Manaus. Mesmo a cidade que teve um colapso, pode ter de novo. As pessoas podem se reinfectar. A estratégia de Bolsonaro, de controle da pandemia com todos se infectando não deu certo, uma vez que as pessoas podem se reinfectar. Então, é muito provável que nós repetiremos as mesmas ondas de crescimento de casos do ano passado”, acrescentou.
O ex-ministro também citou como uma grande preocupação as novas variantes do vírus. “Temos pelo menos quatro variantes, de dezembro para cá, que preocupam porque mostram capacidade maior de contaminação (…) Destas, duas surgiram no Brasil e mostram que se replicam mais rápido e existe dúvida se elas começam a pegar um público diferente, mais jovem, sendo mais grave para essas pessoas. Podemos estar com uma variante que evolui de maneira mais grave entre os mais jovens, sem comorbidades. Na Inglaterra, aumentou para 100 casos por semana as internações de crianças, sendo que foram 20 durante todo o ano passado, por uma doença decorrente da infecção por Covid-19.”
Outro problema apontado pelo ex-ministro é que existe a chance das mutações diminuírem a proteção oferecida pela vacina, como já foi identificado na interação entre a vacina da Astra Zeneca, utilizada no Brasil por meio de convênio com a FioCruz, e a variante sul-africana, que não reduziu a eficácia em termos de casos graves, mas sim no número de contaminações. De acordo com Padilha, é necessário e urgente estudos sobre as interações das variantes surgidas no Brasil com a eficácia das vacinas hoje em uso no país.
Proteção dos trabalhadores e vacinação Já
Para enfrentar esse cenário, Padilha diz que não existe outra alternativa que não acelerar a vacinação em massa no país, além de buscar a proteção dos trabalhadores e evitar a entrega do patrimônio do povo brasileiro por meio de privatizações.
> CUT e Centrais conseguem apoio do movimento sindical da China para vacina
“Tem duas grandes campanhas que eu sei que o movimento sindical está fazendo, mas que precisamos avançar com ainda mais força que são: emprego e vacinação já para todos. O Brasil sabe que tem condições de vacinar até agosto 170 milhões de brasileiros, que é mais ou menos todo público apto a receber a vacina (…) O Brasil sabe fazer isso. Todo ano vacinamos mais de 80 milhões de pessoas contra a gripe em três meses. Para isso, precisamos ter a vacina. Ter a vacina não é mais uma luta científica. É uma luta política. E, além do vacina já, é preciso fazer a defesa das empresas públicas, dos bancos públicos. Eles [governo e aliados] só têm essas ofertas para fazer aos segmentos económicos com que dialogam: desmontar o Estado de vez, ir para cima da agenda ambiental por conta do setor do agronegócio, e o campo do conservadorismo, dos valores ideológicos, que junta o outro segmento fiel ao governo Bolsoanaro”, concluiu Padilha.
> Bancários do Banco do Brasil decidem paralisar atividades na quarta-feira 10
> Em defesa da vida e Caixa 100% Pública, Sindicato protesta no Brás