Empresa mais lucrativa do país, o Itaú está instalando um clima de terror por causa da reforma trabalhista, do avanço da automação dos processos e do plano de demissão voluntária. Os bancários estão inseguros e adoecendo por causa das mudanças.
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A reforma trabalhista, que prometeu “modernizar” as relações de trabalho e criar seis milhões de empregos, está gerando apenas precarização e insegurança no mercado de trabalho e também no Itaú. A nova lei legalizou a terceirização sem restrições e a pejotização – contratação de empregados em regime Pessoa Jurídica. E o Itaú está se valendo amplamente dessa ”flexibilização” para reduzir os seus custos trabalhistas e aumentar ainda mais os seus lucros estratosféricos.
“Os contratados como terceirizados e pessoas jurídicas dividem o mesmo espaço de trabalho dos bancários e têm acesso aos mesmos sistemas. E muitos desses trabalhadores terceirizados e pejotizados estão acionando o Sindicato para questionar as condições vulneráveis que eles enfrentam, porque ganham menos do que os bancários, executam as mesmas funções, são cobrados da mesma forma e não possuem os mesmos direitos e conquistas. E ainda levam o rótulo de trabalhadores ‘terceirizados’. Isso também tem gerado um ambiente de competitividade agressiva entre os bancários e os terceirizados para ver quem vai ser demitido”, relata Júlio César Silva Santos, dirigente sindical e bancário do Itaú.
Levantamento da CUT, em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta que os terceirizados ganham em média 25% menos do que os empregados diretos – e no setor bancário chega a ser 70% menos –; têm jornadas maiores (trabalham em média 3 horas a mais por semana) e ficam menos tempo em cada emprego (em geral são demitidos antes de completar três anos de contrato, enquanto que a média de permanência do funcionário direto é de 5,8 anos).
Automação dos processos
Mas não é só com a terceirização e a pejotização que o Itaú busca aumentar seus lucros por meio da redução dos custos trabalhistas. O banco está investindo pesado na automação. E essa outra modernidade está sendo implantada de uma forma cruel: consultores são contratados pelo banco para seguir a rotina de trabalho nos departamentos a fim de observar processos que podem ser automatizados.
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“Esses consultores acompanham uma determinada área anotando tudo o que os analistas e assistentes fazem e quais dessas funções podem ser automatizadas. Por exemplo: na mesa de aprovação de crédito, o analista precisa fazer consultas no Banco Central, Serasa, SPC, para autorização do crédito. A função do consultor é sugerir um sistema que faça todas essas consultas de forma robotizada. Esse processo está criando um clima de muita preocupação entre os trabalhadores porque eles não sabem se no dia seguinte perderão o emprego para um sistema”, relata Júlio César.
Plano de Demissão Voluntária
Para completar, o Itaú abriu um Plano de Demissão Voluntária que pretende dispensar 6,7 mil empregados. E os critérios do PDV deixam claro os perfis de trabalhadores que o banco quer eliminar: aqueles com mais de 55 anos de idade; que tenham apresentado algum tipo de afastamento médico, físico ou psiquiátrico; cipeiros e dirigentes sindicais.
“Todo esse cenário instalou um clima de terror. O ambiente organizacional está muito pesado. Nós estamos observando que muitos desses trabalhadores estão adoecendo emocionalmente, muitos deles estão sofrendo de síndrome do pânico, síndrome de burnout, crise de ansiedade, porque não sabem até quando terão emprego”, afirma Júlio César.
Segundo o balanço semestral do banco, apenas com a receita de prestação de serviço e tarifas (R$ 19,301 bilhões), o Itaú cobre em 160,9% o total das suas despesas com pessoal. Mesmo assim, o banco eliminou 1.048 postos de trabalho entre março e junho de 2019.
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O Sindicato cobra do Itaú a abertura de postos de trabalho e respeito aos trabalhadores por meio da equiparação de salários e extensão dos direitos e garantias da Convenção Coletiva de Trabalho para todos.
“Estamos buscando a gestão do banco para a construção de uma agenda positiva que respeite a empregabilidade por meio da contratação de todos os trabalhadores como bancários tradicionais. O discurso bonito não pode ficar apenas nas campanhas publicitárias. O Itaú é a empresa mais lucrativa do país e por essa razão tem o dever de contribuir com a sociedade ampliando as contratações a fim de reduzir a sobrecarga de trabalho e o quadro de desemprego que afeta 12 milhões de pessoas, e concedendo direitos iguais a todos os bancários. Isso sim muda o mundo”, afirma Júlio.