‘Basta! Não irão nos calar’. O nome do novo projeto do Sindicato, de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, lançado nesta segunda-feira 9, no Café dos Bancários, remete ao fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970. Naquela ocasião, em plena ditadura no Brasil, a jovem estudante Eleonora Menicucci, que futuramente, no governo Dilma Rousseff, seria ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, já entoava o bordão ao lado de outras companheiras de luta, contra a barbárie, o machismo e os crimes praticados pelos agentes de Estado. Passados cerca de 50 anos, o mote volta ao centro dos debates na sociedade brasileira.
“Vejo a frase e me lembro que já dizíamos isto em plena ditadura, eu e tantas outras companheiras. Falar da violência contra as mulheres hoje é falar dos impactos (das ações) deste atual governo na vida das mulheres brasileiras. Eu só tenho a parabenizar as companheiras do Sindicato dos Bancários por este trabalho, neste evento de lançamento do projeto”, enfatizou a ex-ministra, ao comentar o atual cenário, de ofensiva ultraconservadora do governo Bolsonaro, que tem atuado fortemente no desmonte das políticas públicas para o enfrentamento da violência contra a mulher, seja ela física, sexual ou psicológica.
Veja como foi o lançamento do projeto:
O projeto do Sindicato, que faz parte da programação dos 16 Dias de Ativismo, uma campanha mundial para combater o feminicídio e outros crimes contra a mulher, oferecerá atendimento jurídico especializado em violência doméstica e de gênero e atuará, em parceria com a Rede Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica, atendendo as demandas jurídicas que não podem ser absorvidas pela Defensoria Pública. É uma contraofensiva do movimento sindical contra o atual retrocesso político e social.
No Brasil, a cada quatro minutos, uma mulher é vítima de agressão. Em 2018, foram registrados mais de 145 mil casos de violência doméstica, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
“O projeto ‘Basta! Não irão nos calar’ é fundamental. Estamos numa escalada cada vez maior da violência, de situação de vulnerabilidade das nossas mulheres. Saber que o Sindicato dos Bancários vai colocar uma estrutura para poder receber as mulheres, acolhê-las e orientá-las, é maravilhoso!”, salientou a deputada estadual Márcia Lia (PT), que também esteve presente ao lançamento do serviço.
O secretário de assuntos Jurídicos do Sindicato, João Fukunaga, ressalta que este tipo de atendimento é inédito no movimento sindical. “É inovador, o primeiro atendimento especializado lançado pelo Sindicato que receberá não só bancárias, mas também mulheres de outras categorias. Além de jurídico, é um ato político, em defesa das mulheres, contra a discriminação, contra o machismo e contra toda a violência que as mulheres sofrem, seja ela física, emocional ou institucional”, salienta o dirigente.
Para a advogada Phamela Godoy, coordenadora do ‘Basta! Não irão nos calar’, a “ideia é complementar uma parte que a Rede (Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica) não consegue dar conta”. “Este projeto é voltado principalmente àquelas mulheres que recebem acima de três salários mínimos e não conseguem atendimento na Defensoria Pública, mas também abriremos o atendimento para toda e qualquer mulher vítima de violência doméstica. O serviço contempla desde a parte de orientação jurídica, encaminhamento para a Rede e demais serviços necessários para que ela possa superar esta situação de violência até o ingresso de ações judiciais, tanto as penais quanto as cíveis (dissolução da relação conjugal, pensão, guarda etc.)”, acrescenta Phamela.
Agendamento
Para agendar o atendimento, a mulher vítima de violência doméstica deve entrar em contato, via Central de Atendimento, que também atende pelo telefone 4949-5998, das 9h às 18h, de segunda a sexta, ou vir diretamente à Sede do Sindicato (Rua São Bento, 413, Centro). Os atendimentos serão realizados somente com agendamento prévio. O sigilo à vítima é garantido.
Leia outras reportagens sobre os 16 Dias de Ativismo:
> Mulheres vão às ruas contra o fim da violência contra a mulher
> Mais de 1,2 milhão de mulheres foram vítimas de violência entre 2010 e 2017
> Luta pelo fim da violência contra a mulher é fortalecida neste 25 de novembro
> Bancárias se unem a campanha mundial pelo fim da violência contra a mulher
> Sindicato fará atendimento jurídico a mulheres vítimas de violência
> 3ª edição do Samba da Resistência homenageia as mulheres
> “Torre das Donzelas”: revisitar a história é uma ferramenta política e de luta